quinta-feira, 14 de agosto de 2014

E porque há dias em que parece que o mundo vai acabar




tempo? parte ínfima de reticências em que nada ouço. tudo se adivinha no pouco que dizes. recolho o teu olhar mais profundo por não se materializar nos ruídos das certezas. o silêncio nas palavras. o silêncio a escutar, no delírio da tua boca. palavras de sangue.

palavra de honra que continuo a beber pedras de gelo, a derretê-las devagar, língua encaracolada de beijos escondidos como a sombra que corre invisível escurecendo o momento…

espantas-te com o meu riso, sei que o teu tempo é de agenda, mesmo antes de mo fazeres sentir. sim, pensei em retomar o início do que nunca tinha começado. 

tento disfarçar a impaciência por te sentir apressado. imagino e anseio que tragas desejos nas pontas dos dedos com que faças correr o fecho do vestido justo. olho-te e sei a cor da saliva que te prende a fala.

por momentos as mãos tocam-se. movimentos excêntricos de descobertas e memórias. devaneios com que vou entretendo a solidão.

(tenho um vinil de uma banda punk que aposto, desconheces. não to vou oferecer agora, mesmo que mansamente  me sorvas a calma desabitada do meu ser. ou a fragância que se insinua, nua).

recebo um telefonema e despeço-me. a face corada de prazer. a saber o sabor. o lábio inferior mordido pelo tempo que me ofereces.




quinta-feira, 7 de agosto de 2014

CORPOS

Encostei-te à parede e fui arrancando suavemente a tua roupa. Os nossos corpos fundiram-se sedentos um do outro. Por momentos os nossos olhares digladiaram-se numa batalha silenciosa. O brilho do teu reflectia-se no espelho do meu.
Sorvi dos teus lábios a paixão, tu puxaste-me para ti como se fosse possível fugir àquele abraço furioso.
Fizemos dos lençóis uma praia silenciosa após uma tormenta. O suor misturava-se, percorri com os meus lábios cada centímetro do teu pescoço. Com as mãos viajei pelas curvas suaves dos teus seios. As tuas unhas arranharam-me levemente as costas e eu tremi de prazer. Um arrepio percorreu a minha espinha e explodiu na minha boca sob a forma de um suspiro. Os nossos gritos lutavam uma batalha desgarrada, cada um seguido do outro até à explosão conjunta.
A nossa dança parecia interminável, o coração acelerou, a adrenalina disparou e num momento de puro êxtase perdemo-nos no limiar da razão.
Uma sensação de liberdade tomou conta do meu corpo e abracei-te na tentativa de parar o tempo. O chão pareceu parar, ofegante e feliz beijei ao de leve os teus lábios enquanto meio rouco e tímido sussurrei nos teus ouvidos um amo-te sentido.
Ali ficámos abraçados, a olhar o tecto, sob o brilho ténue das velas, sob a harmonia da melodia que brotava das colunas e que agora se fazia ouvir de novo...
And I wonder if you ever wonder the same, I still wonder...
Fixei o teu rosto, o teu sorriso invadiu o meu olhar. Com um novo beijo selei o momento e chamei o sono.

Adormecemos ansiosos pelo dia para sonhar uma nova noite.

Bruno:Carvalho

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

DOZE

Correm em mim sombras negras, correntes que escorrem pelos meus dedos moldando o mundo, por isso te digo, deves afastar-te de mim sob pena de seres consumida, depois nada mais restará e a noite será eterna.

Afagava sentado no banco do jardim as teclas do telemóvel silencioso, como se aquele pedaço de matéria inerte pudesse matar a sua solidão.
O vento levantava o pó do caminho, levava com ele o seu olhar perdido, o olhar fixo num ponto invisível enquanto as pessoas esbarravam numa linha ténue entre ele e o fluído humano imparável.
Espremia à sorte as teclas, como se de facto o grande texto revelador da sua condição estivesse na sua mente e disparasse à velocidade da luz para a ponta dos seus dedos cada letra, fazendo o sentido ansiado.
Levantou-se com o olhar ainda fixo em lugar algum, deu doze passos. Exactamente doze passos como cada hora do relógio e seguiu indiferente ao barulho, aos destroços, ao sangue derramado, enquanto o banco de jardim se desfazia sob lata amolgada e o telemóvel abandonado tocava a rebate.

Assim seja.
Será então eterna a noite, enquanto juntos vaguearmos por este lugar disperso nos sonhos, continuarão a fluir de mim negros gestos, e nos meus olhos as lágrimas secarão, pois na escuridão tudo é uniforme, restar-me-ão os gritos e a insanidade da paixão.

Bruno:Carvalho

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Dez parágrafos de Agosto



Sopro a areia entre os dedos da mão, assim como quem faz bolas de sabão. Não me lembro se estive a fazer castelos de areia ou a contar o tempo com a mão-ampulheta, só sei que adormecer é tão difícil como encher um buraco na areia com água. 
As madrugadas são passadas a enrolar a maresia em forma de rifas de quermesse. "Esta tem prémio" e dá vontade de esticar o braço para chegar ao prémio que é quase sempre umas pegas de cozinha  bordadas (pelo menos falo por mim). Mas pegar no quer que seja faz-me aquela tontura que se tem à beira-mar quando as ondas recuam e deixam os pés com cócegas. 
Decido ficar sentado nas dunas tisnadas pela noite e fazer de conta que o sol vai nascer no pôr.  

Reparei: os olhos ardem como se fossem chorar um ácido temperado com pimenta, as maçãs do rosto estão pálidas como se tivessem almoçado arroz em pó e os joelhos doem como se as rótulas estivessem enferrujadas pela humidade humilde do tempo que faz.

Não está mais ninguém na praia. E não estou chateado com isso. Se queria companhia? Sim, queria, mas não estou chateado com isso. O único medo que tenho está relacionado com o som do mar às escuras, sempre foi assim, provoca-me medo a imensidão do som de algo que considero infinito sem o conseguir ver. 
Vou enterrar os pés para ter a certeza que não me vou embora. Faço compressão com a palma das mãos na areia que está em cima dos pés e gosto do som que esse gesto faz. Oco, fundo mas ao mesmo tempo cheio e superficial com aroma àquelas loções que nascem nos coqueiros. 
E está frio. O calor já não tem capacidade e paciência para aturar jogos de xadrez com a lua. Rainha e Rei, suas altezas, nem entram em campo, seja nos pretos ou brancos. E eu, como sou peão, pouca mão tenho para aumentar a temperatura. 
A temperatura e todos os outros sinais vitais malabaristas.
Ou trapezistas.

Suspiro... um suspiro era o que me apetecia agora... daqueles que se comem à luz do dia.


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

I is for Inertia [The Alphadeath Codex]




I want to go home

I need to smell the fragrance of rosemary one last time
To step in the pebbled trail that leads to your door
Drifting towards a rescue flag, back to safe embrace
Floating like petrichor after a warm summer rain
I wish I could be there again

Say
Say my name
Whisper gently so the whole world can hear it
Muffled by sorrow
Make it echo in every chamber of your heart
Cry it so quietly until it pulls you apart
And hold it forever in a void
So it can never be destroyed

I’m now but a ripple in a dead calm sea
In the offing of my destiny
Lithe and delicate
In languor afloat
A dream I will become
Asunder from you
Strand ashore

Seraphic
Idle
The inertia takes me deep into the everlasting sleep

I will never go home
For as I slowly sink into blackness
And as the blood runs loose from my veins
Drenching ripped leather, twisted metal and broken glass
I myself become past

And through the shouting, the wailing sirens
The screams of terror and burning flesh
I recall the fragrance of rosemary
The earthy sound of my footsteps over the pebbled trail
And your smile
That luminous, glorious smile
That invited me in

The last minute of life
Is the first day of eternity
As the ineffable becomes tangible
I become aware
Everything is oh so clear
With eyes no longer shaded by fear

But rush not my dear love
For when your time comes
I’ll be the one
Waving
Waiting

I am at home


Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...