O quase-homem quando nasceu
Não chorou, estremeceu e quase-soluçou
Enrolou-se na luz branca da primeira manhã
E quase-sentiu o beijo quente da sua mãe
Envolto num quase-suspiro de felicidade
Quando cresceu quase-aprendeu
Entre dores, esquecimento e ilusão perdido
Sobre o centro do universo e o amor quase-correspondido
Quase-ferido, totalmente despojado
De sentir, querer e quase-desolado
Quase-certo de suas decisões avançava
Por entre escolhas quase-pensadas pensava
Escolhia entre murmúrios e o eco inconstante
O quase-instante da satisfação, errante
Num quase-fóssil de luz guardada
Como um coração sem peito para bater, cuidada
Pulsante, como a quase-memória de um sentimento
Fez de sua casa um quase-lar
Onde quase-nada à mesa lhe poderia faltar
Desde a quase-tristeza ao poema por escrever
Tudo por fazer em tempo de vida, alheado
Quase-sonhava por uma rosa ser quase-beijado
Nunca colhida, quase-desejada e para sempre perdida
Num quase-momento de lucidez e quase-escolha
Pegou em livros e ligou-se ao mundo que sentia a chamar
Perdeu-se a navegar, trabalhar e pensar
E num quase-sufoco esmoreceu inquieto
Num espaço aberto, perdido entre milhares
Dos tais murmúrios, sussurros e apelos similares
Quase-distantes, interligados e sedentos
De propriedade de um quase-ser que quase-nada de si sabia
Apenas a quase-certeza de que lugar-nenhum ali teria
E em quase-solene meia vida decorrida
Entre espadas, parede, mar e quase-fantasia
Deixou escorrer uma quase-vontade que mais não cabia
Fora do eixo, sobre um ponto quase-fixo imaginário
Decide ser quase-altura de abraçar o seu calvário
E num quase-sonho embarcar legionário
Contempla então a quase-libertação
Entre o sólido chão e o fino ar, a encoberto
De uma quase-linha ao pescoço enrolada, não mais incerto
Destino escolhido, quase-perto por fim
Deu um salto de quase-fé, convicto de si
Num voo desenhado em final alegoria
Teve a desejada sorte, quase-sobrevivia