Isto sabe-me tão bem como sal nas aftas.
Andava o cloreto de sódio preso na toalha da mesa.
E depois soube que tinhas trauteado músicas com a cabeça dos
dedos nessa toalha. E pronto, isso bastou para cair de lábios nesse lugar. Era
só um beijo, o mais próximo de ti que se conseguia. Mas ardia muito. De lacrimejar.
Varri com a mão as migalhas do pão mais aquelas que se
colaram à toalha e que por isso deixaram nódoas. Segui com o dedo a marca
redonda do copo tinto. Sei que brincaste nervosamente com a ponta do guardanapo
e por isso fiz dele bolo alimentar só para saber o paladar da tua inquietação.
Era descartável.
Raspei o prato onde comeste para dentro do meu e os restos prenderam-se nos dentes do garfo. O som dele a bater no prato era como
se num casamento pedissem pelo nosso beijo. Outro.
Lavei à mão, com espuma de limonada entre os dedos de cada
vez que os apertava para reanimar a esponja.
Não varri o chão. Não tenho atenção suficiente para desfazer
as tuas pegadas debaixo da mesa, da cadeira. Aquilo que me garante que o teu
peso em sola esteve ali. Quero deitar-me e pensar à noite que irei tomar o pequeno-almoço
na marca dos teus pés. No colo delas.
Nessa manhã, já com a loiça seca no escorredor, sem a tua
saliva (ou resto dela) passei o dedo com força no teu prato e obriguei-o
a cantar tudo aquilo que as tuas garfadas lá deixaram. Senti-me tão má, tão de ânimo
tremido. Débil.
Depois. A faca da manteiga arranca bem as vistas. Escrevi o
amo-te na manteiga e raspei por cima para comer-te em torradas.