Ponha de véspera a necessidade de afecto a marinar em sumo
de agonia
Tempere com lágrimas de saudade e pedrinhas de incerteza
Peneire bem um quilo de esperança, branqueada e artificial
Derreta numa sertã meia barra de amor-próprio e regue com um
fio de ódio
Numa tigela de vidro, frio e fosco, junte um olhar cansado e
um litro de suspiros
Noutro recipiente parta 6 desejos incontáveis e bata até
fazer espuma acre e macilenta
Junte tudo num tacho engordurado de preguiça, humilhação e
insatisfação indolente
Deixe ferver durante anos e anos e anos a fio, sempre no fio
da navalha
Agite ocasionalmente para libertar o desespero e a dor
insuportável
Tempere com luxúria insatisfeita e polvilhe com
autogratificação q.b.
Deixe a assentar até o molho sanguíneo e pungente apodrecer
Acompanhe com salada de pânico e um shot na têmpora
Et voilá, feliz
final feliz!