Por favor
Não me louves em endechas
Nem me componhas sonatas.
Já conheço as palavras mais frequentadas
E os teus sons e silêncios trabalhados
Escorreriam pelas minhas costas.
Não quero que lutes por mim
E que me tragas colinas e árvores azuis,
Arcas de sândalo
Debruadas com fitas de cetim.
Eu sei a que cheira a
terra queimada.
Não quero que me ofereças as tuas veias
Para cortar ou beber.
Não creio que haja líquido dentro delas
E não penso que possas
viver dentro de mim,
Numa ópera negra.
Não preciso de ver o teu caderno de rascunhos,
O delicado lado avesso onde realmente moras,
Com os pontos mal dados e as linhas atadas.
E sobretudo
Não preciso da tua cabeça cansada nas minhas mãos
Se vais amputá-las dessa
leveza inesperada.
Não precisamos deixar-nos à espera
Enquanto tecemos teias
Com beijos de falsário e abraços metálicos.
Não precisamos de sentir crescer o limbo,
O sabor do escurecer do
sol,
O olhar para o relógio à espera do intervalo.
Também não queremos o coração parado,
A martelar marchas fúnebres
E estática.
Descansa…
De ti peço apenas a estrada repisada
O desejo estéril
O calor que passa pelos teus lábios entreabertos
E as tuas impressões digitais nas minhas coxas.
Pouco, como vês…
Eu sei que a verdade não existe
E que o amor, por dentro, é feito de folhas rasgadas.
Sou uma perfeita esfera cauterizada.
Comigo não precisas de te levantar
E fecho a porta atrás de mim.
Perder a inocência, porque ela tem sempre o seu quê de perverso. Poderia ser uma libertação mas não sei se chega a ser alguma vez.
ResponderEliminar"O amor, por dentro, é feito de folhas rasgadas". Assim, tão bonito e com uma leveza tão pesada que até assusta. Tens um enorme talento para falar das verdades e das belezas mais duras. Este é uma faca afiada; adorei.
combinação poema + música = perfeita
ResponderEliminarinocência, a quanto obrigas