Quero morrer de
morte violenta
De morte funesta,
dramática, caótica
Escolhido pela
raiva homicida ou suicídio ritual
Quero que a
explosão do meu ser faça vibrar estas paredes
Derreter os ossos
em frémitos de relâmpago e trovão
Incendiar a boca,
os olhos, os meus dedos para que jamais toquem em nada
Quero voltar ao
nada, ao corte fundo que me fez nascer, ao negro da noite sem fim
Que caiam pedras
do céu, que se abra a terra para me engolir e a chuva forte me empurre
De volta às
entranhas do inferno, o familiar inferno que em vida me fez querer a morte
Mas não uma morte
qualquer, oh não
Tem que ser feia,
pérfida, doentia, dolorosa e fulminante
O sangue terá que
escorrer vermelho escuro sob um chão duro e seco
Um último suspiro
corrosivo e acre não deverá por ninguém ser entendido
Nem lembrado
Num gélido túmulo
enterrado, em névoas de pestilência afogado
Quero que de mim
nada sobre, e nada sobre mim se saiba ou se recorde
Especialmente
Quero que de mim
não sintas falta
Quero que não
vertas lágrimas ou sussurres oração
Quero abandonar o
teu coração, exorcizar-me de teu corpo
Quero que vivas
sem este espectro que te destrói e te mantém cativa
Que não mais
acredites em amor eterno, que me renegues e condenes ao exílio
E que ergas o teu
olhar para nunca mais me veres
E que a tua alma reconquiste
a inocência
Quero morrer de
morte violenta
E dar-te a
serenidade de que nunca nada mais de mim saberás
Gosto da forma aguda como exploras a ideia de que o sofrimento levado a um nível inumano pode lavar a culpa e devolver a inocência intacta. Gosto especialmente do silêncio antes dos dois últimos versos, a isolar o sacrifício.
ResponderEliminarA carótida a pedir caninos afiados. Em grande estilo-
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