segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Fonte


 Corre a água pela Fonte,
Barulhando perto ao longe,
Triste e pálido mato meio sem Graça.

Sequiosa, a boca, comanda-se emudecida
Pelo calor da fachada
Que esconde o estro ingénito
Que acende e apaga a luz do meu ser.

Temos todas as razões para viver,
Mas falta-nos sempre uma razão para reparar o mundo.
Porque o mundo é ingente e pequeno,
Vê-se sempre perto de longe.

Brotam-se ideias e pensamentos,
Mas é certo que nunca se exuma como deve ser.
(Estará o solo insalubre?)

A água, pura, esvai-se
Pelo desejo ávido
Que mescla cada pedaço de mim.

Já nem me acho,
Deslustradas, as fotos
Que me pediram.
(Pena, os traços do rosto que se espelham na água)

O gesto inócuo nunca me há-de dar a conhecer o incognoscível.

Fosse, talvez, o mundo feito de insipidez
E fossem os dias resumidos a flores, sol e Primavera.
Fosse eu a tua sede e água da Fonte a tua boca,
Porque assim, num gesto vão, estaríamos conchavados.

O (nosso) mundo não é a fachada que pintamos.

1 comentário:

  1. Um belíssimo poema que me tinha passado despercebido, não pelo conteúdo, mas por minha recorrente pressa em que vivo.

    água e sede saciando bocas.

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