De certeza que foi um velho que me pegou isto. É por isso que
não gosto de sair de casa… sei que me vou cruzar com os velhos do 1º direito.
Há dois dias comecei a usar fralda, a não controlar essas vontades básicas. Se antes não era assim, de certeza que foram os velhos, só de respirar o mesmo ar, o mesmo espaço.
Há dois dias comecei a usar fralda, a não controlar essas vontades básicas. Se antes não era assim, de certeza que foram os velhos, só de respirar o mesmo ar, o mesmo espaço.
Depois reparei em como está diferente a minha mobilidade, a minha
quase-praticamente independência de movimento. Agora sou uma alface,
flácida, que só mexe os membros por pequenos impulsos. Fazem-me tudo, inválido,
eu. Sim, eu.
E alguém percebe o que digo? Escapam-me sons estranhos aos dos
mortais não doentes, letras soltas, sons ocos, guincharia… e tudo isto
acompanhado de muita baba a escorrer pelo canto da boca.
(Acabou de sair-me um cocó agora)
Ainda hoje queria apanhar um bocadinho de sol, isso a que
chamam passeio, e tive que ir numa cadeira de rodas. A empurrarem-me, a depender
da misericórdia de alguém que faz um frete e assim conquista o seu lugar no céu.
Porquê a mim? (cliché, cliché, je sais!) Mas nunca precisei
disto, tanta gente que se cruza com os velhos e não os vejo a ficar assim. O
meu sistema imunitário deve ser muito fraquinho… ou começou a ser. Claro, claríssimo
e mais uma vez a causa deve ser o contágio.
(Se não berrar agora, fico com o rabo todo vermelho, já
sinto a pastosidade a subir-me pelas costas, a transbordar a fralda de velhos.
Berrar! Porque nem cú consigo dizer).
E o comer, custa-me engolir. Só líquidos e mesmo assim
engasgo-me, fico roxo e dão-me palmadinhas nas costas. “Tão? Já passou? Ai, ai,
o glutão!”
Devo morrer em breve e choro a noite toda por isso. Espero
conseguir ir à minha primeira consulta de saúde-infantil. Talvez isto tenha
cura, se os meus pais pagarem a um bom pediatra, talvez ele me cure.
Pensei que já tinha comentado...é de ler muitas vezes ou então...estou velha :-)
ResponderEliminarUm retrato tão mordaz quanto real.
(um dia, hei-de comprar todos os teus livros)