Até mesmo os olhos
fechados ao exterior, aceleravam o coração na corrida para o mundo a descobrir
por dentro outras coisas, tão novas que lhe eram agora intimidade suprema de
si.
Colecções de lembranças em caixas de cigarrilhas, douravam-lhe a pele, o cabelo,
o olhar de uma luz ambarina.
De mãos dadas com o tempo,
escreve, descreve, imagina… sucinta textos desfragmentados a tinta permanente,
azul, cor da infância e dos laços nas tranças.
Crepuscular o vazio do estômago
quando o avião levanta voo, num misto de grito incandescente de vida escorrida
dos dedos que se conformam nas mãos esculpidas. Como se fossem mármore.
Viaja em velocidade
uterina, o sabor do jantar a passado, como quando se deseja muito algo que
acontece decorrido tempo demais, o sabor a guardado, quase naftalina bolor de
prado estéril.
Aquela noite era
diferente. Imperava o contraste de uma tarde de insónias misturadas entre
o fabricado, o fumo de palavras implícitas, os cheiros dos restaurantes take-away. O jantar desconfortável na
busca de olhares em que as mãos eram o repasto e os dedos, sinfonia.
Queria tudo, numa fome e
sede profundas, coloridas, licorosas.
Então num gesto em que se
fecha e desenha, confirma o modo avião no telemóvel, na esperança de uma sms de última hora.
Cerra as pálpebras no
gesto de raiva que lhe fere o lábio inferior. Entre um soluço mudo e uma
lágrima invisível, engole o adocicado do sangue que é também, rubor.
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