Correm
em mim sombras negras, correntes que escorrem pelos meus dedos moldando o
mundo, por isso te digo, deves afastar-te de mim sob pena de seres consumida,
depois nada mais restará e a noite será eterna.
Afagava
sentado no banco do jardim as teclas do telemóvel silencioso, como se aquele
pedaço de matéria inerte pudesse matar a sua solidão.
O vento
levantava o pó do caminho, levava com ele o seu olhar perdido, o olhar fixo num
ponto invisível enquanto as pessoas esbarravam numa
linha ténue entre ele e o fluído humano imparável.
Espremia à sorte as teclas, como se de facto o
grande texto revelador da sua condição estivesse na sua mente e disparasse à
velocidade da luz para a ponta dos seus dedos cada letra, fazendo o sentido
ansiado.
Levantou-se
com o olhar ainda fixo em lugar algum, deu doze passos. Exactamente doze passos
como cada hora do relógio e seguiu indiferente ao barulho, aos destroços, ao
sangue derramado, enquanto o banco de jardim se desfazia sob lata amolgada e o
telemóvel abandonado tocava a rebate.
Assim
seja.
Será então eterna a noite, enquanto juntos vaguearmos por este lugar
disperso nos sonhos, continuarão a fluir de mim negros gestos, e nos meus olhos
as lágrimas secarão, pois na escuridão tudo é uniforme, restar-me-ão os gritos
e a insanidade da paixão.Bruno:Carvalho
Olá Bruno! Espero reler-te por aqui muitas vezes :)
ResponderEliminarvou tentar, ir aparecendo :)
EliminarMagnífico texto, Bruno.
ResponderEliminarMuito cinematográfico. É como um pequeno filme em que em cada parágrafo mudas o plano ou o movimento da câmara para focar ou dispersar a nossa atenção. Lembrou-me, por esta razão, o "Short Movies" do Gonçalo M. Tavares. E sê bem-vindo.
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