segunda-feira, 2 de abril de 2012
... de água salgada
sexta-feira, 23 de março de 2012
estática formidilo
A passear pelas entrelinhas de um jornal
a formiguinha com borboletas na barriga
contorna a palavra embalsamado
e sente que algo está enredado.
Senhor seu marido o Crocodilo Camilo
invoca o seu estado e diz-se aprazível
mas a formiguinha só chora de desgosto
pois o seu amor em anúncio foi posto.
Encantada com a sua mandíbula
as núpcias fizeram-se apressadas
beijos trocados entre dentes e antenas
palavras mastigadas em contracções de fábula.
Agora todo o amor passa o dedo e sente escamas
pelo móvel pantanoso faz um trilho em passos seis
formiguinha alagada em lágrimas de crocodilo
escorrega pelo chão viúvo das damas-alfamas.
(Se o TeLhado estrelado pudesse ser um desejo afinado
formiguinha almejava que todo o sal se desfizesse numa folha de jornal
queria que as letras pequeninas fossem grãos de areia
para que as palavras anunciadas não soubessem a teia.)
quarta-feira, 21 de março de 2012
O SALITRE DAS ARRIBAS
Nos reflexos na janela esborratada pelas mãos da criança perdida
Revelou-se o desenho da tua memória nunca antes invocada
Quem és? O regresso adiado das coisas imaginadas e feitas jamais
Quem foste? Os sonhos inatingidos e castrados à nascença pelos próprios pais
Quando te deitas em que pensas? Na tua vida na que imaginas e na que tens.
Nas promessas de um caminho pelo qual afinal não vens?
Despido de todas as aberrações e capas.
Ser simplesmente como se é
Um chá. Numa terrina de sopa. Percebes a ironia? Estarei louca?
Seria a mesma ao acordar? Preferias café?
No teu olhar vejo o mar. A saudade das causas vencidas e das horas mal passadas.
As tuas ondas são mais salgadas. Trazem a maresia e os ares da montanha.
Que completa e encaixa na planície da erosão
Evocando um mundo maior onde o criador foi peremptório
Em separar as águas com avidez tamanha
Que a bebeu toda e no seu lugar deixou o céu.
E o teu sorriso de menino perdido que esborrata desenhos no vidro partido
Corta-me em perfeitos cacos e deixa-me novamente de braço caído
E totalmente atenta aos sinais
Aquele trilho que cobiço. É também por aí que vais?
Ao fundo dos precipícios altos
Ao preto negro dos basaltos
À seiva das ervas claras cheias de viço
Ao calor do beijo anunciado
Que antes de mim
Será roubado por uma das tuas servas
Que resmunga e te excomunga entre os dentes
E te encomenda a morte a gigantes valentes?
Seria mesmo assim?
Apesar do final do trilho ser sempre incerto
A minha testa de menina perdida que corta os pulsos na pedra partida
Poderia parar no percurso e descansar no teu peito aberto
E no final o teu corpo marcado pelas silvas encostar-se-ia à minha garganta?
Se tu fosses demónio ancião, eu seria uma nova santa
E o salitre das arribas ficaria contrabalançado
P’ la humidade relativa das nossas almas em colisão.
MM’ 12 Março 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
Antes que o sol nasça
sábado, 17 de março de 2012
O mundo, teu
Por uma boca nómada
Onde todas as filosofias estão radicadas.
Circundada pelo ócio,
Ensopada pela vontade,
Exsurge-se-me a vontade de tudo abecedar.
E fosse o mundo um quadrado não explanado
Desvanecendo-se na vontade de ser achado.
(Assim giraríamos em linhas rectas, tal eco, tal eternidade)
E fosse o mundo o vácuo, que eu me calava
Só para te ouvir com os olhos.
(Pascendo-me nos céus, tal beleza)
E fosse o mundo tu e eu, mais nada,
Onde nenhuma metafísica minha estivesse errada.
(Tal utopia, tal cegueira. Paixão, essa, por inteira)
Mas tudo o que escrevo estropia-se no espelho.
Como um tiro falhado,
Sou poeta errante,
Estatuado,
Com ar de navegante,
À espera que a minha bala penetre o peito
De quem me causa deleito.
Sentimento abinício revela-se um esquisso.
Exumo tudo o que penso
Escavacando ao paroxismo do desalento.
Ego abúlico revela-se ábio
E nidificando-se em ti
Quer vida.
Agora, pasmo,
Chora, escondido na sombra de te ter luarejado.
(Pena que seja lucífugo)
Fosse o mundo o meu vómito.
Quero crer-me nele
E abluir pensamento.
Quero descrer-me que o seu motor
É como o vento,
Ora contra, ora a favor do nosso movimento.
Emanuel Graça' , 14 de Março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Desafio: Anúncio para primórdio

sábado, 10 de março de 2012
AINDA NÃO
Nos bancos do metro, esperas em não-lugares que não são nada senão antecâmaras de uma outra coisa qualquer. Mas sinto falta de ar. Não é que não respire. Inspiro oxigénio e exalo dióxido de carbono como todos. Mas falta-me a dimensão da luz do dia. E fico feliz por o meu lugar não ser ali, e de não pertencer a coisa nenhuma feita pelos homens. Por os meus olhos serem livres de ver outras paisagens. O mar, o céu azul, os vegetais rasteiros e as plantas mais altas, os pássaros marítimos, os nós retorcidos dos chaparros. O cheiro doce do calor e da falta de chuva. De não sentir falta de ver gente, e poder vê-la em tanta diversidade e quantidade quando viajo. O que fica desses cruzamentos incorpóreos quando regresso? No vazio de tantas caras, será alguma verdadeiramente inesquecível, especial? Será a promiscuidade dos encontros casuais uma realidade tão necessária ao esquecimento das penas, para quem não tem certezas de querer encontrar um caminho? Isto é assim tão óbvio? Para mim, não. Ainda não.
É certo que o meu porto seguro me dá paz e tranquilidade, e que as incursões no incerto me fazem correr mais depressa o sangue. Porém descubro que ainda consigo sentir. Não perdi a capacidade de admirar as coisas e as pessoas. De me apaixonar pela forma como uma gota de água escorre pelo cálice de uma flor, pela forma espontânea como alguém sorri, a curvatura do nariz. Conservo uma centelha de pura esperança na possibilidde da mudança e de empatia. Não ser só mais um corpo em rápida fuga escada acima para uma carruagem qualquer no subsolo. Não ter de ingerir mágicas poções para dormir sem pesadelos, nem outros venenos para enfrentar o trânsito nas ruas. Poder ser, ou não ser, estar onde e como quero e me sinto no momento. Sem me sentir esmagada.
Na minha cabeça escrevo: vou ultrapassar os pequenos obstáculos e tentações em nome de uma meta maior e mais longínqua. Trilhar o meu próprio caminho, que não é em nada igual ao de mais ninguém. Nem queria. Mesmo que quisesse. Nunca foi. Não saberia como não sair do trilho pré-existente.
Disseram-me tanta vez: “não te estragues”. E apesar da vida não ter sido como sonhei, dos penetras, das rugas e das noites mal passadas, dos chocolates, dos dias de tanta chuva sem sinais de ver o sol nascer, das dores, das mágoas, das ausências e inconsistências, ainda acredito no amor entre as pessoas, no altruísmo, na dádiva desinteressada, na bondade.
Ainda não apodreci.
MM’ 8 Março 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
Estro Eufémico
sábado, 3 de março de 2012
Colectânea "Corda Bamba"
colectânea Significado de Colectânea subst. f. 1. colecção de textos de vários autores
Vamos iniciar uma nova colectânea ...desta vez só para AUTORES
DESCONHECIDOS -----
Textos; Pequenas Histórias; Pequenos contos; Histórias pessoais , reais!!
Queremos publicá-los com histórias reais, de gente que sente e que vive !
Histórias da vida real .
Histórias sem idade...
Histórias sem preconceitos, sem tábus e sem "medos"...na "CORDA BAMBA"
1º Passo
- Enviar o manuscrito em formato word
para a apreciação e selecção
( recebemos o vosso manuscrito até dia 27 de Março de 2012 )
e-mail : pastelariaestudios@gmail.com
Cá vos esperamos com histórias e mais histórias !!
Transformamos as vossas obras em sonhos acordados”
---a participação nesta colectânea é gratuita----
obrigada
Teresa Maria Queiroz
sexta-feira, 2 de março de 2012
quinta-feira, 1 de março de 2012
FENÓMENO ATMOSFÉRICO
Chegaste. Tarde. Muito mais do que queria esperar por ti.
Sem certezas de que virias, apesar das promessas habituais.
Como carraças na pele que não tocavas há tempo
Nos lábios, o pó secara há muito. Também ele vermelho-bolor.
Haverá alguém que agora saiba mais do que eu sobre o teu cheiro e cor?
São tantas as aves que não consegues evitar seguir
Se tenho algo mais, diferente, especial para te dar?
Só todo o peso da minha leveza, e a doçura do meu sal
A certeza de que os eternos recomeços acabam sempre por pausar
E que nesse instante, efémero, pungente e intenso, existe o nosso lugar.
Chamei-te tanto e quis abraçar a fé de te voltar a sentir no meu rosto.
Renovando os votos desse encontro telúrico
E molhaste o meu peito imperfeito desenhando curvas na minha mão
E encaixaste no meu solo árido, não como arado, antes luva.
Só não sei, ainda, se é a água que eu quero.
MM’ 1 Março 2012
Impossibilidades
É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...
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É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...
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I. Olha para ti, nem tens força para pegar em mim, quanto mais para me fazer feliz. Ontem ouvi dizer que me ias contar um segredo, a...