segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O condomínio




É um simples prédio de subúrbio. Sem cor, sem varandas, sem elevador e sem porteira. Vulgar. Dois andares, paredes texturadas da Robbialac, espadas de são jorge em vasos de plástico e escadaria ladrilhada que todas as terças-feiras tresanda a limpeza e amónia.
Igualmente comum é o hábito que os residentes têm de pendurar placas de barro vermelho com provérbios na sua porta exterior. Estas jóias da sabedoria popular em suporte argiloso, colocadas um pouco acima do óculo da porta acabam por ter a mesma função que o dito, mas de forma invertida. Com a lente vê-se de dentro para fora, com a placa vislumbra-se algo de fora para dentro.
No rés-do-chão esquerdo do “Grão a grão enche a galinha o papo” mora a Dona Maria. A placa foi comprada há cinco anos em Porches quando, nas bodas de prata, finalmente conseguiu convencer o esposo a passar férias no Algarve em vez de ir à terra. A festa durou quatro dias, até que as saudades dos caracóis no café da igreja falaram mais alto. Foi nessa altura que a Dona Maria ficou viúva, num desditoso acidente com uma botija de gás mal fechada e um maçarico. Não fosse a maldita sinusite crónica do esposo, que praticamente não tinha olfacto... Não se aproveitou nada da casa de família. Passado o tradicional período de luto, a prendada dona Maria, sem filhos e sem netos, decidiu reformar o seu passado de mulher honesta... Literalmente. Os tapetes que fazia nos tempos livres foram trocados pelo tráfico de anfetaminas, ecstasy, ice... mas se lhe dessem tempo arranjava qualquer sintética. Outras tramas, outras teias. O emprego de auxiliar educativa foi providencial e agora controlava todas as escolas da zona em conjunto com a Dona Imaculada da básica nº 3 e a Dona Pureza da secundária do bairro social. O seu papo estava, efectivamente, cheio. E pronto para um reforma confortável.... à beira-mar.
Na porta do rés-do-chão direito está colada uma placa coerente com o facto de ser um piso térreo: “Quem a alto sobe, de alto cai.” A escolha é igualmente óbvia para quem conhece a vida da dona Graça, uma rica herdeira rural que se vê confinada àquela casinha devido aos maus investimentos do marido. Mas que podia ela fazer... o homem pensava em grande. Tão altas eram as montanhas que sonhava quão fundos eram os fossos reais em que tombava. “Quando surge uma oportunidade há que agarrá-la”, dizia. Nunca conseguiu agarrar o que quer que fosse. Mãos de manteiga. Também não conseguiu agarrar-se quando soprou aquela súbita rajada de vento no alto do miradouro enquanto se debruçava para ver melhor a paisagem. Já passaram quatro anos desde o improvável infortúnio meteorológico. Como o tempo voa. O mesmo, desgraçadamente, não se pode dizer do finado. A única que agarrou alguma coisa foi a dona Graça pois conseguiu salvar os magros restos da fortuna e garantir um tecto sobre a sua cabeça.
No primeiro direito mora a jovem Dona Ângela, que escolheu a placa numa daquelas casas de artesanato moderno fabricado em série. “O que não tem remédio, remediado está”. Foi este o sábio ditado que valeu à pobre rapariga há três anos atrás, na altura do precoce desaparecimento do seu companheiro. Era um bonito rapaz, mas tão viciado em futebol e jogos de computador que passava mais noites com a playstation do que com ela. As vezes que lhe dissera para prender aquela estante à parede. Só mais um jogo, só mais um jogo... Dizem que o rapaz tinha uma boa cabeça mas, infelizmente, não resistiu ao impacto. O destino prega-nos cada partida, hoje estamos aqui e amanhã não sabemos, não somos nada.... E nada aplica-se bem ao defunto... mas tinha um bom seguro de vida e há muita gente interessada em jogos no e-bay.
O primeiro e segundo esquerdo são o lar duplex da Dona Celeste. Herdou as duas fracções do marido e da sogra, uma mulher cujo amor maternal era tal que nunca conseguiu separar-se do filho. Era um sentimento tão abençoado que até a morte preferiu levá-los juntos, há dois anos. “Deus ajuda quem madruga” faz sentido para uma mulher que toda a vida saiu da cama às três da madrugada para fazer croquetes, empadas, pastéis, pataniscas e toda a espécie de salgados para vender. O marido não podia ajudar porque a sua sobriedade durava até às nove horas de amanhã, hora de abertura do Lidl com o seu acessível stock de vinho de pacote. Com grande empenho, a zelosa Dona Celeste passara os últimos anos a aprimorar uma essência concentrada de camarão que fazia com que o recheio rendesse o dobro. A sogra, que estava acamada, queixava-se do cheiro sempre que ela preparava aquele potente caldo, tal a sua alergia a estes crustáceos. Ainda por cima era hereditária. Não fosse a elevada alcoolemia e o marido nunca teria trocado os rissóis de peixe pelos funestos petiscos que o levaram a ele e à progenitora para o paraíso.... celeste. Por ironia do destino, era aquele mesmo caldo que agora dava algum conforto à casa da viúva ...e à do inspector da polícia, com quem montou um discreto negócio na internet. Ele arranja os clientes e ela trata da especialidade gastronómica. Cinquenta por cento cada.
No segundo direito não mora ninguém. Até há um ano atrás habitou lá um jovem poeta que se recusava a colocar a placa de barro na porta. Ofereceram-lhe várias:“Junta-te aos bons, serás como eles”, “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” e, por fim, “Quem semeia ventos colhe tempestades”. Em vez disso, aquelacriatura bizarra colava papéis com poemas rabiscados a lápis. Todos os dias um diferente, todos os dias aquelas lengalengas que ninguém entendia. Morreu, inesperadamente, numa terça-feira, numa desagradável fatalidade envolvendo as escadas e um sabão Clarim. Certamente um erro da mulher a dias. Um desperdício de bom sabão, suave e cheiroso, que foi confiscado pela polícia. E claro, pronto.... o rapaz ainda era muito novo, estava na força da vida, tinha um grande futuro pela frente... O tímido vizinho foi chorado e carpido mas a verdade é aquele comportamento excêntrico estragava a harmonia do condomínio.
Harmonia. Sim, é esta a palavra. Ninguém pode negar que reina a concórdia naquele pacato prédio de subúrbio, mergulhado na penumbra das lâmpadas incandescentes e na sua placidez de gineceu. E entre as senhoras que lá moram a vida passa tranquilamente, na serenidade branca das rendas estendidas ao sol, na brandura do aroma de verbena nas gavetas, no sossego das conversas partilhadas com uma chávena de chá ... Enfim, na candura das pequenas coisas que dão sabor à vida e aliviam o fardo da solidão.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Grandes Músicos




Os grandes músicos

não se limitam a tocar

eles interpretam e recordam-nos

os acordes de uma alma maior

«ainda distante» que tenta cantar

e que não deixa de nos encantar

ligam-se e ligam-nos

ao que intimamente nos une

compõem o que estava distorcido

unem o que estava perdido

dão asas à poesia emergente

que nos move e dá vida

mesmo na melancolia,

mesmo na solidão,

revelam-nos a graça de viver

e devolvem-nos a harmonia,

dilaceram-nos por dentro

mas embalam-nos a mente,

incitam-nos sem cessar,

impelem-nos a saber viver,

e reenviam-nos,

por vezes quase subtilmente,

para a melodia que nos pressente

para a plenitude de

Ser!


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Desafio: Brinca Comigo

Carissim@s,

Para aqueles que gostam de um bom leitmotif para concretizar em bits e bytes esses sonhos, imagens e contos que por ai vão dentro, aqui fica um desafio:

- Criem um texto (conto, poema...) que terá que ser apresentado obrigatoriamente em 2 partes com o seguinte título:

BRINCA COMIGO

NOTA: a razão para ser um desafio a duas partes é para que possa ir aparecendo material antes do fim do prazo! Assim, vamos lendo as partes I...

Tem até dia 11 de Setembro (parece-me uma bela data).
A partir dessa data será lançado um pequeno 'concurso' no grupo 'mãe' da Alone in the Dark - A Radio Project, para determinar qual a versão preferida dos nossos 'ouvintes'.


Quem alinha?

Saudações AitDianas
D.U.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O toque



Lembras-te do clique que o interruptor da luz fazia quando chegavas a casa e eu estava sentada no chão, encostada ao sofá? Ansiava por aquele som o dia todo. Estava de tal forma memorizado na minha cabeça que às vezes pensava que o ouvia mesmo sem ele existir. O meu coração disparava e os meus olhos voltavam-se repentinamente para a porta da sala. Depois sentia como que uma onda de frio a cobrir-me o coração quando via que os teus dedos ainda não estavam a tocar no interruptor. Voltava a encostar a minha cabeça aos joelhos e adormecia. Mas sabia que mais cedo ou mais tarde tu virias, era só uma questão de tempo. Sempre gostei dos teus olhos, acho que foram eles que me obrigaram a querer conhecer-te. Ainda me lembro do dia em que eles olharam para mim pela primeira vez, tão doces, tão calmos, tão felizes. Consigo sorrir só de pensar nisso. E o toque das tuas mão? Do teu corpo? Ganhava forças cada vez que te sentia, era capaz de enfrentar o mundo só porque sabia que teria sempre um abraço teu e, isso era alimento mais do que suficiente para mim. O teu sorriso, sim o teu sorriso, ver o teu sorriso era o equivalente a ter ar para respirar para o resto da vida. Tenho saudades tuas, as horas não passam, os teus dedos nunca mais tocam no interruptor da luz. Lembras-te do nosso primeiro beijo? Que suspiro me traz aquele beijo… penso que ele me impregnou com vida eterna, porque sei que naquele momento os ponteiros do relógio pararam.

Agora vivo uma vida infinita ao teu lado, que me agita de cada vez que acendes a luz. Assim que te vejo sei que senti a tua falta o dia inteiro mas, quando os teus olhos cheios de raiva brilham mais depois de acenderes a luz sei que afinal talvez não quisesse estar ali naquela sala e não percebo porquê. Quando as tuas mãos me agarram e empurram-me contra as paredes sei que tenho amor algures no meu coração mas afinal isso não significa que esteja no teu também. Quando os teus braços me envolvem o pescoço e sinto o meu coração a bater dentro da minha cabeça sei que já fui feliz, muito feliz e fecho os olhos para não ver o que me fazes. Quando os teus lábios me agridem com palavras cortantes, sinto que o tempo podia voltar a parar, podia ser suave novamente, mas… não. O tempo já não pára e nunca mais acaba, porque no dia em que me encheste com vida eterna essa tornou-se a minha maldição, para sempre, até ao fim. Depois, quando voltas a sair da sala e, ainda antes de desligares a luz vejo um sorriso teu e fico petrificada a olhar para ele, em apneia… aquele sorriso sufoca-me mais do que a força dos teus braços. Depois os teus dedos tocam no interruptor novamente e oiço a tua voz que lança lâminas e diz-me que amanhã irás acabar comigo de vez. A porta fecha-se, é trancada e eu volto a sentar-me no chão, encostada ao sofá e fico a pensar no que é o amor e no que ele significa. Lembras-te do clique que o interruptor da luz fazia quando chegavas a casa e éramos felizes?

Eu vejo-te...



Escondido
Seguro que ninguém te vê
Para além do reflexo pálido do luar
Soturno
Nocturno
Mas nunca ausente

Encriptado
Entre senhas e enigmas
Uma serpente entre rimas
Perplexo
Sem nexo
Mas sempre diferente

Eu vejo-te, irmão
Na tua sombra, a minha luz
No teu respirar, o meu sufoco
Na tua teia, liberto
Sem querer
Sem sofrer
E no entanto, sem nunca te ver

Encontro-me em ti
Nas pausas entre linhas

Eu
Sei
Tudo o que se oculta
Nesse ninho de ilusões auto infligidas

Eu vejo-te...
Não me escapas mais por entre os dedos
Porque agora, apanhei-te!

Tu e eu
Esta noite
Ajustamos contas

E pela manhã, mais ninguém nos verá

Jamais!

domingo, 22 de agosto de 2010

Palavra



Porque talvez eu saiba que aqui dentro existe uma agressividade ferrenha e uma língua felina querendo sair.
Talvez exista alguém que pense demais, que sinta demais, que doa demais e que quer jogar isso tudo em cima de alguém pra ver se pára de doer.
As feridas profundas, mágoas, fivelas fechadas, faixas que circulam e que querem só ser libertadas.

Não sei falar de pouco. Sou pessoa de muito! E talvez tenha optado em algum momento, pelo silêncio.
O silêncio que não cura a minha dor de garganta. Um silêncio auto-imposto e auto-impostor. Um silêncio que me mata aos poucos, e que não faz questão nenhuma de falar. Sim, tenho medo da reacção das pessoas. Tenho medo de expor coisas que são tão minhas que doem em sair.
Falar é como um parto, dorido, sangrento, cheio de gritos de horror. Palavras mal ditas (e deve ser daí que vem o termo maldição) são veneno puro. E claro que todos nós dizemos coisas das quais nos arrependemos e, principalmente, pensamos coisas das quais nos arrependemos. Não queremos nos arrepender. Não queremos, principalmente, que os outros não nos amem mais. E não queremos, principalmente, ouvir da boca do outro aquilo que pensamos ser verdade sobre nós próprios.
Não sou boa para falar. Não sei, sempre fui assim. Tenho a voz baixa, preciso esforçar me pra ser ouvida e se grito demais fico uma semana com dor de garganta. Mais ou menos como estou agora. Com muita, muita dor de garganta.
Quero falar. Só não encontro um jeito de fazer isso, porque falo quando deixo de estar em paz com os vossos pensamentos...
Quando te encontrar meu amigo,que o espírito anime os nossos lábios e dirija a nossa língua...porque a voz é ave do espaço ,metida em gaiolas de palavras.

sábado, 21 de agosto de 2010

Selecção



Sem saber se seria suicídio sério, Simão sentava-se sozinho. Silenciosamente saboreava seis sorrisos singelos sem sofrer saudades. Simplesmente sentia sombras sedentes sob si, sentia sóis salgados, sentia sonhos salpicados sem siso, sentia sujidade solta, sentia sono sufocante, sempre sem saber se seria sério.
“Salta, Simão” segredava-lhe Satanás. “Salta, sofredor!”
Setecentos séculos sacrificados sem sentido. Sozinho, sempre sozinho, Simão sofria, sangrava… saqueava sementes sem ser, sem salvação, sem sanidade.
Semana sim, semana sim, Simão sentava-se. Semana sim, semana sim, Satanás seringava-lhe sílabas sombrias. Simão suportava, sempre suportou.
Sem saber se seria sério, Simão suplicou segundos seguidos “Serei salvo, sim, serei salvo, sentirei sonhos sorridentes, sentidos sem sombras sinistras”
Subitamente, sem sagração, sob sobrolho, soou sibilo selvagem. Satanás sorriu.
Sábado sempre saiu saimento. Setecentos séculos secos, senis, sedimentados, saqueados, sepultados…
Setecentos séculos serão sorteados… Sorte saiu sarcástica.

Sem saber se será suicídio sério, Sara senta-se sozinha. Silenciosamente saboreia sete sorrisos singelos sem sofrer saudades...

Ruínas

Há anos que tinha isto na cabeça. Apresento-o agora, em primeira mão, «aqui». Obrigado Nuno pelo repto.

Nota:
A quem ler isto…
Se quiseres mesmo entender o texto que se segue, ouve primeiro esta música soberba de Rodrigo Leão e deixa-te enlevar por ela.
http://www.youtube.com/watch?v=5B4Lw58Tx-o

O texto tem vários significados para mim e duas dedicatórias… a primeira, óbvia, ao talentoso Rodrigo L., e a outra verás no fim.

Agora sim, convido-te a ler o texto (se puderes fá-lo em voz alta), novamente ao som de "Ruínas" e, por favor, tenta seguir o ritmo e os tempos da música.
Só assim o poema poderá, eventualmente, fazer algum sentido.

Ficarei atento às tuas críticas que desde já agradeço!




Ruínas


Tu que estás aqui comigo
e eu que estou aqui contigo
gostaria de saber o que dizer
só p'ra te ver sorrir.

Tu que estás aqui sozinho
e eu que estou aqui sozinho
gostaria de dizer o quanto
tu significas p'ra mim.


Sim, eu tudo irei tentar
mesmo se parecer vacilar.
Sim, eu vou ter que lutar
e não vou, nunca, desistir.


Eu não vou ceder à dor,
eu aceito-a com amor,
não receio mais sofrer
vou continuar a dar e aprender.

A vida nunca tem fim
e a morte é só uma passagem
por isso te abraço agora
pelo (tanto) que significas para mim.


Então, não fiques triste por eu ir
pois Eu não irei desaparecer.
Apenas o meu corpo vai morrer
assim, recorda-me a sorrir.


Esta vida é uma etapa
que só tu podes percorrer.
O essencial é dar e é o carinho
por quem (também) está no Caminho.

Tu que vives aqui em mim
e eu que vivo aí em ti
sabes que Eu sempre tudo farei
só p'ra te ajudar e ver sorrir.



Ad Memoriam António Feio

"Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer" (António Feio)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Louco




O louco fugiu do paraíso
por saber que dele precisam
no mundo das grandes ilusões
onde os destinos se cumprem
(mas raramente se realizam)
e os ignorantes se nutrem
(mas comodamente se escondem)
em fervilhantes multidões.
O louco fugiu do paraíso
para oferecer o seu sorriso
por saber que é preciso
mesmo por entre o pior
porque homem algum é Homem
se não deixar o mundo, melhor!
O louco fugiu do paraíso…
Por isso não evita as lágrimas
nem menospreza os sentimentos
por isso faz delas os seus escritos
com entrega em todos os momentos
pelo prazer de dar e de servir.
E nas páginas que de si sangra
revela as forças que nos movem
(numa onda que só ele vê a chegar)
transforma o caos em ordem
(sabendo que a verá triunfar)
e então desvela-nos o seu amor!
O louco fugiu do paraíso
para enfrentar o nosso inferno
com a singeleza de um sorriso
e a coragem de afirmar o Eterno!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ventos de esperança



De tanto ouvir falar do mestre,resolvi procura-lo.

Primeiro, disseram-me que ele estava em um determinado templo, fazendo ablações. No entanto, não o encontrei por lá.
Na soleira do templo, alguém me disse:Ele está no Astral de África, ajudando invisivelmente as crianças daquele continente tão sofrido.
Noutro momento, fui informado de que ele estava participando de uma assembleia com um grupo, no Astral da Índia. Fui até lá, mas ele já se tinha ido embora.
Um dos sábios me disse:Ele foi ajudar um espírito a desprender se da matéria e a realizar sua passagem final, rumo aos sítios espirituais do Eterno.
Posteriormente, alguém me disse que ele estava no Astral do Brasil, visitando um discípulo. Rapidamente, desloquei-me para o grande país ensolarado e cheio de esperança; contudo, só encontrei o seu discípulo, que, aproveitando-se dos momentos de descanso físico, projectara-se para fora de seu corpo e flutuava nas correntes energéticas extra físicas.
Sorridente, ele cumprimentou me e disse: Olha, ele esteve aqui rapidamente, abraçou-me e passou me aquela energia maravilhosa, enchendo-me de contentamento e apaziguando minha saudade. Mas teve que ir logo. É que houve uma chacina num bairro da cidade e ele foi até ao local para ajudar espiritualmente as pessoas num momento tão difícil.
Eu também quis ir,ele não permitiu e me sugeriu ficar por aqui, meditando na sabedoria e irradiando luz silenciosa a favor do bem de todos os homens.
Sabes, muitos o imaginam vivendo nos altos planos espirituais, mas a verdade é que ele trabalha muito nos níveis extra físicos densos, sempre passando energias suaves e secretas e ajudando a todos.
Ele é muito simples e alegre e o seu toque espiritual passa leveza, cura e serenidade. Ele não julga ninguém e abraça de coração aberto, seja quem for.
Ah, ele ri igual a uma criança...
Se tu o quiseres encontrar, procura-o nas ondas da assistência espiritual.
Então,segui o conselho do rapaz e deslizei nas ondas do amor até ele.
Na verdade, foi até fácil. Foi só seguir sua trilha de luz por entre os planos...
Finalmente, encontrei-o por cima de um lugar escuro e sujo, onde aplicava passes energéticos num espírito atormentado. E ali vi como um mestre trabalha nos bastidores espirituais do mundo.
Vi quando ele abraçou o espírito e envolveu-o em luz suave, apaziguando-o. Depois, ele abriu um portal luminoso e enviou aquela entidade sofredora através dele, para outros planos, para a devida assistência nos centros de cura do Astral.
Admirado com a sua simplicidade, fiquei sem saber o que dizer e o que fazer diante dele. E aí, ele riu, abraçou-me e encheu-me de contentamento, e disse:Eu soube que tu estavas a minha procura. Aqui estou. Queres me acompanhar? Então, abre o teu coração e enche as tuas mãos de luz, em nome do Amor Divino.
Vem comigo, meu filho. Vamos juntos abençoar a alma do mundo. A luz da Mãe Divina e ela guiará nossa jornada.
E eu fui com ele, nas ondas da assistência espiritual...
Mais do que um mestre, uma presença generosa e simples, que abraça a todos, sem julgar ninguém. Ele não está em algum paraíso ocioso criado pela fantasia dos devotos, não!
Ele voa no Astral da Terra, ajudando os homens e os espíritos, rindo e abraçando, e agradecendo ao Supremo Amor, que é sua inspiração constante.
Ele é o vento da esperança varrendo secretamente as dores do mundo...

E agora, enquanto me lembro das risadas e do abraço dele, a quem devo tanto.
sinto me feliz, consigo flutuar, quando me sinto feliz, consigo ouvir o meu coração cantar, quando me sinto feliz, consigo ler nos lábios dos outros só as palavras felizes, positivas, com boa energia, não assimilo e não registo as restantes.
Porque eu, quando estou feliz, consigo fazer os outros mais felizes,quando estou feliz, quero muito que tudo à minha volta brilhe, transborde de cores vibrantes, respire música e inspire amor. o meu e o outro. aquele que me faz sentir, verdadeiramente, feliz.
Desde aqui, até um muito, muito, muito tempo...

domingo, 15 de agosto de 2010

de Costura



Máquina
Que pára
Ao ponto
Redondo
Perfura
A agulha
Um sinal
Sem cura.

Máquina
Que anda
À linha
Recta
Prende
Bainha
À Vida
Encoberta.
Máquina
Que sofre
Ao lado
De mim
Motor
Que gira
Numa carretilha
Sem fim.
Máquina
Que sabe
Ao nascer
Sorrir
Quer
Parecer
Para nunca
Iludir
Máquina
Que escuta
O pedal
De metal
Cortou
Estancou
E por fim Assentou…
...uma mortalha.

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...