Depois de ver , ler e participar no vosso Blogue .... A Pastelaria sugere que se comece a pensar numa colectânea ! Vamos editar o Alone in the Dark ??????
espero o vosso parecer .... pastelariaestudios@gmail.com
Outrora, quando os meus olhos ainda brilhavam por qualquer coisa que fosse luzeiro, os meus sonhos alcançavam uma distância tão curta que o tamanho actual dos meus braços seria capaz de lá chegar sem o mínimo esforço, sem um só gemido ou sufoco. Agora, os meus sonhos, aos meus olhos, são do tamanho do céu; do comprimento da terra. E as estrelas, que outrora eram… imaginem a incandescência mais pura que se pode ter. Hoje poderão imaginar uma névoa cinza que se aglutina com os corpos celeste. E, sabem uma coisa? Ontem descobri que os meus braços não são de tal tamanho.
Respiro-TE em ausências de momentos em que a luz difusa me penetra como se a tua mão na minha fosse ainda o caminho. Lascivos os olhares com que nos bebíamos (S)em pressas que transbordavam de silêncios contidos. Procuras-ME em noites de Lua Cheia, quando me transformo em loba e te devoro em reticências. Sabes a pedras salgadas, a fumo de sobro e a flores silvestres, com que me debruas os seios de auréolas rosas em bicos de espinhos. Soltas perfumes de cristais no mercurio com que iluminas as manhãs que transportamos ao colo, sem que ninguém saiba, em segredo, ao mesmo tempo que me telefonas para dizeres: amo-te.
Finjo que te esqueço, quando o café arrefece o açucar e o chá de menta sabe a deserto na alma que tocas cada vez que me entoas canções e me esperas na esquina onde mais ninguém passa, para não saberem deste amor proibido, celebrado um dia por semana, todos os anos, mesmo hoje, quando o cabelo (a)dourado se desprende dos teus dedos e a barba embranquece as tardes de pecado que não fomos. Fazes amor comigo, como se fosse a ultima vez. E para mim, é sempre a primeira, nas descobertas de centímetro a centímetro de ti, de mim.
Eternizo-TE nos cãnticos que jamais escutarei. Fecho os olhos, as pernas, os braços. Fecho-ME contigo dentro de mim e saio em busca de nós, no passado que já não lembro.
Firme o rochedo que (me) suporta em puro (de)leite de ti quando descanso as bocas as pernas e a alma em olhares lânguidos de prazer gozado (o)usado derramado pelos movimentos em rotação translação de mim.
Chegas com a musica nas mãos no corpo as sinfonias que inventamos suores frios transpiração em notas soltas dum concerto inacabado solfejo explorado bailado de flores em aromas perfumados sexo e lágrimas pela distância que não queremos mas temos.
Então, a vingança do teu corpo no meu a saudade das almas que se fundiram e permanecerão una a violência e paixão num orgasmo sem perdão pecado bocado de ti que sempre em mim ficou. E germinou.
E o teu gesto (e)terno nas noites em que me afastavas o cabelo dos olhos para o beijo que perdura até hoje para além do tempo em que o meu corpo era a tua inspiração e a tua musica a minha mão. (Que ainda ampara lágrimas, quando me olhas...assim...)http://youtu.be/h8lVabAajMQ
_é hoje o concerto! Temos bilhetes para um camarote !
_quantas pessoas podem estar no camarote ?
_ acho que cinco…
_Tens mesmo o bilhete do camarote? Onde é que o arranjaste ..?
_ não te digo !! tenho !! e é hoje ! …rias-te …
Esperávamos há meses pelo concerto do Gilberto Gil , ao vivo no Coliseu . Ouvíamos todas as músicas, vezes e vezes sem conta.
O “Realce”, rolava no gira-discos, sempre para o mesmo lado e sem tonturas ! Ouvíamos e dançávamos, horas seguidas, tardes inteiras. Sabíamos as letras de cor.
“Realce …..Quanto mais porpurina …melhor …l ala la ….”
Pulávamos , e respirávamos tudo o que era positivo naquelas músicas que nos faziam crer que tudo, mesmo tudo e apesar de tudo …iria ficar sempre bem .
_ tens mesmo os bilhetes ??!! Eu nem acredito
- È um bilhete só , parva ! É um camarote …
_E quem é que vai ?
_ Vamos nós todos …
- Mas somos mais que cinco….
_Não faz mal, vais ver que cabemos lá todos .
Doía-me a barriga , a espera dava-me cólicas, ou formigueiro… as horas não passavam !
_ Põe o “Realce” outra vez …
O disco dançava connosco, sem saber o que nos fazia, rodava e rodava . A agulha gasta dava mais carácter aquela voz clara.
_ Jantas cá ?
_ Tenho que telefonar para casa …. A minha mãe vai já dizer que não …mas enfim …não vou perder este concerto nem por nada .
Peguei no auscultador do telefone , era preto e reluzia … disquei os números , 3---1---3---7---6---, nessa altura os telefones tinham poucos números e eu gostava de prender o disco com força e ouvir o ruído da marcação do número.
_ Está …sou eu mãe…Olha ..? Posso jantara aqui … e ir ao concerto do Gilberto Gil , logo à noite ?
_ Olá filha, podes. Claro que podes, tem cuidado. Vai ver o Gilberto Gil que é muito bom. Por favor não venhas tarde.
_Posso mãe??!! Posso mesmo ? – Está bem eu não vou tarde , prometo . Beijinho mãe, obrigada .
Desliguei o telefone , e nem queria acreditar …
_ Posso ir ! A minha mãe deixa-me, e posso jantar cá. A que horas vem a tua mãe ?
_ Sei lá, vem sempre tarde …fazemos uns ovos mexidos e vamos , temos que lá estar cedo .
_embora até ao café ver quem lá está …temos lugar para cinco !
_para cinco…ou mais !! quantos couberem ….
Ríamos sem parar.
Chegámos , devagar porque não corríamos , quase nunca corríamos .
Chegámos como quem não quer a coisa.
_Sabem que mais ??? temos um bilhete para um camarote , para ver o Gilberto Gil , hoje …
Olharam todos para nós como se nos estivessem a ver com cabeças de porco !
_ A sério ?!
_ Sim …a sério… quem é que quer vir ?
Todos queriam ir , claro . Mas o bilhete era só para cinco …
_ Os camarotes só têm cinco cadeiras …
_ Não faz mal , ficamos uns em cima dos outros …ficamos em pé !
_ Por mim tudo bem , se nos deixarem entrar …
_ Mas como é que tens o bilhete ?
_ arranjaram-me …
_Quem ??
_ Um amigo da minha irmã , que conhece o Gilberto Gil ..
_ Mentirosa ! És tão mentirosa …ria-me...
Ninguém acreditou
Dizias isto com um ar de quem não dá importância nenhuma .
Os rapazes olhavam uns para os outros , com olhos que falavam …. _ arranjas as cenas para logo ?
_ Ok arranjo, do melhor …
_Ok , mas vê lá o que é que arranjas , não quero gajos a mandarem-se do camarote lá para baixo !
Ouvia e não queria saber se queria ouvir ou não.
“ Seja o que Deus quiser, é um concerto …e vou-me querer rir!” pensava sem fazer barulho .
Nem comemos nada de jeito, fomos todos fazer ovos mexidos com batatas de Pála- Pála , e engolimos uma comida sem sabor .
O disco continuava a rodar …sem parar, as colunas estavam no máximo, e dançávamos de prato na mão , depenicando bocadinhos de ovo e batatas fritas .
Desacertava-mos os passos ao som dum reagetão suave , tão envolvente …
Apanhámos o 44 , que nos deixava na Av. da Liberdade, depois era um instante até ao Coliseu .
Quando chegámos à porta, já se amontoava uma multidão que ansiava por entrar por ali dentro, ainda faltavam algumas horas para o concerto.
Bebemos cerveja num café , mesmo ali em frente , bebemos cerveja até as portas , do Coliseu, abrirem …nem sei quantas cervejas bebemos .
Apagávamos os Sgs Filtros nos gargais das garrafas de cerveja , os rapazes guardavam as pratas dos maços de tabaco , mais tarde faziam os cachimbos .
Entramos todos no meio dum enorme empurrão, quase que não havia controle nas entradas , e nós só queríamos ouvir o “Realce” e o, …”no woman no cry……” ao jeito do Bob Marley , cantarolávamos pelas escadas cima.
Cabíamos todos no camarote, eu fiquei “à janela” , as meninas à frente para verem melhor , os rapazes atrás ..para arranjarem “as coisas” .
Fumávamos cigarros ,…. Naquele tempo fumava-se nos concertos do Coliseu.
O Gilberto Gil entro no palco, as luzes acenderam-se, eu hipnotizei-me , imediatamente, pela enorme estrela dourada , pintada na sua cabeça , quando se voltou …vi que tinha uma Lua do outro lado
As luzes faziam com que brilhassem , faziam reflexos de pequenos cristais de caleidoscópio , eu olhava fascina … e …ia fumando o que me passavam para as mãos , cada vez mais feliz , embriagava-me no som , nas letras e naquela estrela virada para mim .
Não me voltava para trás , só sentia o calor de todos os corpos que se moviam perto de mim , ao som da música . Entre odores e fumo, não sentia mais nada , só o ritmo e o fascínio das luzes .
As luzes faziam brilhar a Estela e a Lua … que pareciam enormes …
Sem me aperceber , batia palmas sem ritmo …
Não acertava o compasso, as mãos não obedeciam ao ritmo da música que se instalava dentro de mim…
olhando para as pessoas , lá em baixo, pela “ janela “ do camarote, via toda a gente a bater palmas num compasso que já não era o meu , as luzes começaram a brilhar com mais intensidade….
Ia batendo palmas , assim como sabia , fumava o que me passavam para a mão , entre cigarros e cachimbos ..Descompassava-me, cada vez mais.
Apercebi-me que me assustava, que já não compassava, que já não me sabia obedecer , que já não “mandava” nos meus gestos, e a partir daquele momento…nunca mais fumei o que não sabia .
Depois de vários retornos ao palco, o Gilberto Gil acabou o espectáculo. Assobios que pediam mais , e mais .
Palmas compassadas que não ritmavam com as minhas .
Saímos no meio duma massa de gente feliz, estavam felizes , pareciam felizes… todos se riam .
Eu deixei de rir, assustada com o meu descompasso,
Voltámos para os Olivais. No caminho cantavam as músicas que ouviram no concerto, eu …estava calada , olhava-os com os olhos muito abertos …esperando que passassem as horas e que me conseguisse ritmar outra vez .
Demorámos imenso tempo a chegar aos Olivais , a mim pareceram-me horas infindáveis , as paragens estavam cheias de gente , que bem nos tinha sabido um carro naquela altura , mas carros ..não os havia assim para toda a gente .
Ríamos por isso mesmo e por tudo e mais alguma coisa
Chegámos ao “prédio” alto, nos Olivais , eu nem sabia como iria para casa …
Ficámos a “matar” o resto do tempo sentados nos degraus das portas , continuavam a fumar …. Eu não queria fumar mais nada . Já não me ria, já não me dava vontade de rir …
_ Vamos até minha casa? Ficamos lá um bocado…
_ Está bem , eu nem sei como vou para casa agora , tenho medo de ir sozinha…tenho que atravessar o Vale do silêncio ….a esta hora …e já foram todos para casa…
Entramos em casa, era mesmo ali, no R/C , do prédio alto, nos Olivais .
Sentimos vozes e luzes na sala do sofá amarelo . Falavam brasileiro, parecia brasileiro , e naquela altura era tão bom ouvir falar brasileiro…
Ouvimos o som baixinho duma guitarra … alguém cantava , assim com uma voz exactamente igual à que tínhamos estado a ouvir durante horas,
Olhámos uma para a outra , incrédulas, abrimos a porta da sala do sofá amarelo .
E sem acreditarmos, vimos quem cantava assim tão suavemente. Sentado no sofá amarelo, acompanhado com mais duas ou três pessoas , estava o Gilberto Gil, horas depois do espectáculo, a tocar ali, naquela casa no meio dos Olivais.
_ Tu estás acreditar no que estás a ver…?
_Não …não estou
Desatámos a rir … mas porque raio é que o Gilberto Gil ali estava ….?!
_-tu sabias que o Gilberto Gil vinha para tua casa ?
_ Eu não !?
“..não …não chore mais …. No woman no cry…..”….os dedos brincavam com as cordas da guitarra .
Parecia não estar a acreditar no que via
_ Mas olha lá …que raio de coisa esta …mas porque raio está o Gilberto Gil em tua casa …?
“ …quanto mais purpurina …melhorrr….” e recordava a música , e a estrela agora já não brilhava tanto..nem a lua , eram douradas , pintadas a ouro .
_ Espera …vou perguntar à minha irmã … o que se passa aqui …
“realce…..realce….quanto mais serpentina melhorrrrr….”…
.
o susto já me tinha passado, e meio embasbacada , sentava-me na pontinha do sofá amarelo , ele sorria-nos com uns dentes tão brancos e com uma voz que nem se explicava ,,,,
“..não desepera quando a vida fere fere …realce …realce quanto mais serpentina
melhorrrr….quanto mais purpurina ..melhorrr …”
_ Já sei ….já perguntei à minha irmã , parece que o motorista do Gilberto Gil , é amigo da minha irmã…e resolveram vir cá para casa no fim do espectáculo ….
Olhei com os olhos muito abertos ….Desatámos a rir às gargalhadas … sempre queríamos ver se amanhã, os outros acreditavam em nós …
_ hahaha , amanhã ninguém acredita em nós !
Ríamos e ríamos e começávamos a cantarolar as músicas que ele nos tocava , assim como um presente que nos dava , entre cervejas , cigarros de fumo e gargalhadas espalhadas no meio do som .
_ Eu nem acredito … phá! Mas que raio de coisa…e tu sabias disso
_ Eu não …
E assim ouvimos um mini- concerto , depois dum grande concerto, o mais inesperado da minha vida .
Ficámos por ali sentados no chão, encostados ao sofá amarelo , até o Sol nascer e a Lua adormecer...
Trabalhávamos num escritório mínimo cheio de cadeiras de madeira velha, secretárias de fórmica e antigos papéis mata-borrão em cima de tudo o que se parecia com uma mesa.
Naquele escritório, raramente apareciam os advogados que o arrendavam.
Ali nunca nada se passava, os dias eram cheios de silêncio, a luz morria em lâmpadas de vinte velas. Ali, não víamos nada nem ouvíamos nada, só porque aquilo, por ali ,era menos que quase nada.
Não tínhamos muito que fazer, só pequenos afazeres burocráticos e bafientos.
Morríamos dia a dia .
E tão bafientos nos sentíamos, desarranjados de vontades e adormecidos de sensações que desmaiávamos todos os dias, caindo na letargia instalada
Aquele devia ser o Verão mais quente, que eu me lembrasse …
Chegávamos ao escritório com pouca roupa e com a pele luzidia e banhada em Sol matutino.
Eu imaginava-me uma executiva, num arranha-céus de uma qualquer cidade europeia, e mordendo a ponta da caneta, lá me sentava em cadeiras escangalhadas…
A Elsa, vestia sempre qualquer coisa que lhe marcava, de forma sensual, os enormes seios que pareciam querer saltar da blusa de licra preta .
Os mamilos endureciam, cada vez que Elsa lhes tocava distraidamente … olhava para Carlos, que se sentava mesmo à sua frente.
Elsa imaginava e quase que conseguia sentir, as pontas dos dedos de Carlos a passarem leve, casualmente... junto aos mamilos que espreitavam no seu decote, e se escondiam num apertado sutiã branco que marcava rendas escondidas numa blusa preta.
Olhava distraidamente para Carlos, começava a sentir um latejar agradável quando comprimia as pernas quase sem dar por isso. Passava a ponta da língua nos seus lábios carnudos, humedecia-os de propósito, semi cerrava os olhos e tudo fazia para sentir a perturbação evidente de Carlos.
Carlos olhava Elsa de um modo disfarçado. Não conseguia desviar os olhos daqueles mamilos proeminentes, duros, desenhados na blusa decotada. Fechava os olhos míopes , escondidos em óculos de tartaruga , imaginava o sentir da sua língua rodeando os duros mamilos, enquanto as suas mão afagavam suavemente e com força aqueles seios que lhe pareciam tão firmes.
O calor húmido que se sentia no ar, fazia com que as suas pernas se colassem à cadeira de napa, mexia as pernas e estimulava assim uma erecção quase permanente. Tocava o seu pénis ao de leve e pensava tocar os mamilos de Elsa. Como seria a sua cor? Imaginava-os claros, como pétalas de flor, imaginava-os macios, imaginava-os rijos, imaginava que os trincava devagar, imaginava ouvir os gemidos surdos de Elsa.
Eu contemplava todo aquele mágico teatro, todas as mágicas cenas, tudo aquilo que lhes poderia passar pela cabeça, e nesta minha húmida imaginação sentia a minha roupa interior que começava a colar-se em mim.
Carlos, por si só, não me excitava. Elsa também não.
Excitava-me imaginar que se tocavam, ou que pensavam tocar-se.
Quanto mais pensava ver os dedos do Carlos a apertarem os mamilos de Elsa, mais molhada me sentia, devagar acariciava um clítoris que crescia quase sem eu lhe tocar, nem parecia o meu...
Se lhe tocasse agora, sei que teria que gemer.
Tocava-me, e disfarçava o gemido no meio de uma tosse inventada.
Era assim todos os dias, no meio dum calor sufocante, sentados em cadeiras velhas, respirando ares de bafio.
Dia após dia, nunca finalizava o meu secreto prazer, prazer que começava a sentir assim que chegava ao velho escritório.
Um dia, por um acaso da vida, chego mais cedo.
Abro a porta devagar, quase que não fez ruído ao abrir. Sento-me na cadeira à entrada da porta, espreitei pela nesga de porta aberta … oiço um gemido abafado … de onde vinha aquele som... miado sedutor …? Abri a porta da sala devagar e espreitei…
Naquela manhã, alguém tinha chegado mais cedo do que eu.
Elsa e Carlos envolviam-se em sons mal cantados e carícias molhadas. Deixei-me ficar, quieta, olhava as mãos de Carlos que acariciavam os mamilos rosados de Elsa, enquanto passava a língua, suavemente, na parte interior das suas pernas.
Elsa gemia, pedia-lhe, num sussurro,que a língua não parasse de percorre toda a sua vagina, que de tão húmida reluzia. Carlos acedia ao pedido, tocava as pernas de Elsa com a língua e encostava-lhe, quase sem querer, o seu enorme pénis.
Devagar, muito devagar, roçava o grosso pénis na suave e branca pele de Elsa.
Comecei a sentir as minhas calças húmidas, incómodas e apertadas.
Podia tocar-me sem ninguém ver.
Desci as calças de algodão e acariciei, sem medo, toda a zona que gritava entre as minhas pernas, de tão molhada escorregavam-me os dedos.
Carlos explorava Elsa com a sua língua e numa força repentina voltou-a, deitou-a na velha secretária de fórmica, e quase sem ruído penetrou-a, enquanto as suas mão lhe acariciavam os seios com força, Elsa, ao mesmo tempo, estimulava o seu clítoris.
Foi nessa altura que entrei na sala, sem darem por mim.
Já estava meio despida, só com os seios tapados, comecei a tocar e a beijar, delicadamente, os testículos salientes de Carlos. Carlos voltou-se, olhou-me com os seus olhos miopes,sem aros de tartaruga morta , e sorriu-me, a sua boca procurava a minha e encharcamos-nos num beijo.
Repartia agora as suas mãos, entre os seios de Elsa e o meio das minhas pernas…
Elsa percebeu que algo se passava, e voltando a cabeça para trás pedia a Carlos que a penetrasse com toda a sua força.
E num momento só… experimentámos ao mais intenso prazer das nossas vidas.
Carlos fazia-me deliciar nas suas mãos, Elsa se perdia -se ao ser possuída pelo enorme e duro pénis.
Esperava por nós, e quando atingiu um denso orgasmo, repartiu-o entre a flor rosada de Elsa e a minha sedenta boca.
Estava na hora da saída, esperavam-nos as filas enormes nas paragens apilhadas de gente morta esperando autocarros desconchavados.
Vestimos-nos à pressa , em silêncio e em sorrisos, e cada um seguiu o seu percurso dentro de um corpo ainda húmido, ainda vivo…
À nascença eram perfeitos. Vinte dedos, pulmões limpos, grito agudo contra a liberdade puxada com ventosas. Um forte rapagão. Uma doce menina.
Nessa mesma noite, uma lâmina de lua roçou o seu rosto e obrigou-o a abrir os olhos. Entre uma sístole e uma diástole, o seu coração cresceu um milímetro. Ninguém reparou no seu olhar branco.
Na manhã seguinte, estilhaços de sol cravaram-se nas suas pálpebras e forçaram-na a abrir os olhos. Entre uma diástole e uma sístole o seu coração encolheu um milímetro. Ninguém reparou.
Quando o tempo o fez homem, já não tinha espaço no peito. Uma enorme massa de músculo, sangue e veia insuflava-lhe a pele convexa e arqueava-lhe as costelas. Como podiam os doutores da ciência não ver a deformidade no seu corpo e na sua alma?
Quando o tempo a fez mulher, já só tinha espaço no peito. Um poço seco e sem compasso erodia-lhe a pele côncava e implodia-lhe as costelas. Como podiam a ciência e os seus doutores não ver?
Tentou perder o que sobejava em muitos lençóis, dividi-lo por vários corpos. Mas a resposta não estava nos dedos de mulheres mortas gadanhando as suas costas, no lábio mordido até ao sangue pelo prazer comprado, na submissão do seu sexo à torpitude sem rosto, no desejo a confundir-se com a agonia. O seu tormento não se expurgava com espasmos fáceis drenados numa qualquer viela escura.
Tentou encontrar o que faltava em vários lençóis, um corpo que estivesse disposto a dividir-se com ela. Mas a resposta não estava nas bocas de homens mortos nos seus seios, no sexo sem prazer oferecido até ao sangue, no abandono a línguas sem rosto, na agonia a confundir-se com o desejo. O seu vazio não se enchia com bocados de desconhecidos engolidos num qualquer beco escuro.
Às vezes irrompia pelos campos oferecendo-se ao enredo das silvas, deitava-se no chão e esperava que os bichos da terra viessem devorar aquele tumor feito de morte.
Às vezes oferecia-se aos campos deixando-se romper pelo enredo das silvas, deitava-se no chão e esperava que lhe crescessem raízes para devorar a vida.
Outras vezes fechava as luzes, segurava os joelhos e imaginava a incisão perfeita que lhe permitiria meter a mão, arrancar a besta e vê-la deixar de pulsar entre os dedos.
Outras vezes fechava as portas, tapava os ouvidos e imaginava o corte perfeito que lhe permitiria meter a mão no vácuo e deixar o seu resto de humanidade escorrer-lhe por entre os dedos.
Sufocavam.
Sobreveio o desespero, a única força que escala até ao eremitério mais alto da dor sabendo que não haverá descida. E foi nas cumeadas dessas serranias que os caminhos da sua mortificação se cruzaram. Os seus olhos encontraram-se, as mãos despiram o resto dos trapos e, sem uma palavra, os seus peitos deformados encaixaram suavemente.