sábado, 26 de novembro de 2011

Rouco

São estes momentos que fazem a minha inutilidade. Quando fico sentado numa cadeira, a desenrolar os novelos do tempo. Igualmente agora sinto, essa fragilidade colossal crescer dentro de mim. E a ferida que volta á carga, e arde, e arde… por não te ter dentro de mim! Já lá vai o tempo… o tempo em que te encontrava no tecto do meu quarto, fechado na doce utopia de ganhares uma forma literal no papiro. E eu sorria, e sorria, quando sentia as tuas botas de couro pisarem o meu Jardim interno. Foi contigo, e foi nas tuas rugas que aprendi a disfarçar as cicatrizes de essência. Tu
eras os pregos que estavam nos cantos dos meus rasgados lábios... Tal qual se dizes a tua arte, fingida!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Hei hei hei



Hei hei hei ....... não estamos muito activos por aqui...::)
Toca a escrever .....beijinhos
Vou promover o blogue nas páginas do Face
beijos
Teresa Queiroz

foto: Teresa Amaro 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Queda



Raiz
nascida
na pálpebra
rasgada
um arco
curvado
num olhar
sentado

Pestana
franzina
com pé
dançado
nas narinas
torvelinha
nos lábios
é fininha

Descido
o pescoço
ao ombro
encosta
segue umbigo
hoteleiro
com pensamento
coveiro

Finalmente
afadigada
nos pés
deitada
com pálpebra
distante
e bainha
rasante

Pestana
corcunda
que dobra
não parte
ginga
pela estrada
na noite
assombrada

domingo, 13 de novembro de 2011

abraça-me , só porque te conheço o afago ...

estás aqui ?
segues ao meu lado ?
...não conheço quem me abraça , não conheço o seu som
estás aqui ? estás ao meu lado?
já não te oiço !

não te vejo ...
já não te sinto
nunca mais te senti ...
nem vejo a tua sombra
estás aqui ?
segues ao meu lado ...?
nunca mais te consegui tocar
assim como quem já se esqueceu do som..

abraça-me ..só porque te conheço
revira-me
dá-me voltas .... grita.me ou sussurra-me ...
não me morras
tal como prometes-te ...

não andas por aqui !
nunca mais te senti ao meu lado ....
já nem sombra me és
se calhar
eu nunca mais te quis
e asseio o teu abraço ?
só porque já não sei quem me abraça outra vez ...

embaciam-me os olhos
estás por aqui ? segues ao meu lado ?
não te cheiro
não te vejo

fizeste-te em nada
tal como um dia me prometeste que farias ....?
reviraste.me ...
não te oiço !
nunca mais te vi ...
deixei - te morrer... tal e qual como tu querias ...

abraça-me
só porque te conheço o afago ...
nunca mais te quero lado a lado .

Teresa Maria Queiroz
Julho 2011
foto - Sonja Valentina

Vamos editar o Alone in the Dark ??????

Depois de ver , ler e participar no vosso Blogue .... 

A Pastelaria sugere que se comece a pensar numa colectânea ! 


Vamos editar o Alone in the Dark ??????



espero o vosso parecer ....


pastelariaestudios@gmail.com



Teresa Maria Queiroz 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Remoto

Outrora, quando os meus olhos ainda brilhavam por qualquer coisa que fosse luzeiro, os meus sonhos alcançavam uma distância tão curta que o tamanho actual dos meus braços seria capaz de lá chegar sem o mínimo esforço, sem um só gemido ou sufoco. Agora, os meus sonhos, aos meus olhos, são do tamanho do céu; do comprimento da terra. E as estrelas, que outrora eram… imaginem a incandescência mais pura que se pode ter. Hoje poderão imaginar uma névoa cinza que se aglutina com os corpos celeste. E, sabem uma coisa? Ontem descobri que os meus braços não são de tal tamanho.

Frederico Vanesgard

This Woman


Respiro-TE em ausências de momentos em que a luz difusa me penetra como se a tua mão na minha fosse ainda o caminho. Lascivos os olhares com que nos bebíamos (S)em pressas que transbordavam de silêncios contidos. Procuras-ME em noites de Lua Cheia, quando me transformo em loba e te devoro em reticências. Sabes a pedras salgadas, a fumo de sobro e a flores silvestres, com que me debruas os seios de auréolas rosas em bicos de espinhos. Soltas perfumes de cristais no mercurio com que iluminas as manhãs que transportamos ao colo, sem que ninguém saiba, em segredo, ao mesmo tempo que me telefonas para dizeres: amo-te.

Finjo que te esqueço, quando o café arrefece o açucar e o chá de menta sabe a deserto na alma que tocas cada vez que me entoas canções e me esperas na esquina onde mais ninguém passa, para não saberem deste amor proibido, celebrado um dia por semana, todos os anos, mesmo hoje, quando o cabelo (a)dourado se desprende dos teus dedos e a barba embranquece as tardes de pecado que não fomos. Fazes amor comigo, como se fosse a ultima vez. E para mim, é sempre a primeira, nas descobertas de centímetro a centímetro de ti, de mim.

Eternizo-TE nos cãnticos que jamais escutarei. Fecho os olhos, as pernas, os braços. Fecho-ME contigo dentro de mim e saio em busca de nós, no passado que já não lembro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Clave de Sol



Firme o rochedo que (me) suporta
em puro (de)leite de ti
quando descanso
as bocas
as pernas
e a alma
em olhares lânguidos de prazer
gozado
(o)usado
derramado
pelos movimentos em rotação
translação
de mim.

Chegas com a musica
nas mãos
no corpo
as sinfonias que inventamos
suores frios
transpiração
em notas soltas
dum concerto inacabado
solfejo explorado
bailado de flores
em aromas perfumados
sexo e lágrimas
pela distância que não queremos
mas
temos.

Então,
a vingança do teu corpo no meu
a saudade das almas
que se fundiram
e permanecerão
una
a violência e paixão
num orgasmo sem perdão
pecado
bocado
de ti que sempre em mim ficou.
E germinou.

E o teu gesto
(e)terno
nas noites em que me afastavas o cabelo dos olhos
para o beijo que perdura até hoje
para além do tempo
em que
o meu corpo era a tua inspiração
e a tua musica
a minha mão.
(Que ainda ampara lágrimas, quando me olhas...assim...)http://youtu.be/h8lVabAajMQ

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

As Melodias Venenosas

O mal,

o mal é eu viver no meu corpo,

É a minh'alma ter a sua vontade,

governar-se pelos seus meios.

Enveredar pelas florestas de dor,

e mergulhar nesses mares do mais profundo,

do mais recôndito e esquecido estigma.

Viver dentro de mim, mim mesmo

e ver como régio o meu mártir medo.

Quando se tenta voar acima do nosso solo,

as cicatrizes rompem novamente,

rompem ao nosso descuido.

E o efeito das melodias venenosas,

Desvaneça, para desespero do adicto.


Frederico Vanesgard

Cristal de Quartzo




Jacarandás quase em flor


tílias (s)em chá


quartzo vítreo


perfumado


amado.



Serra ardente


fogo controlado


palavras por inventar


caio em mim


espanto-me


reconheço-te o olhar



quente


impaciente


envolvente


em semente


a germinar



estás onde sempre estiveste


não há longe


nem tempo


agora é o momento


de recomeçar.



Estou a caminho...


domingo, 6 de novembro de 2011

Palmas compassadas que não ritmavam com as minha



_é hoje o concerto! Temos bilhetes para um camarote !
_quantas pessoas podem estar no camarote ?
_ acho que cinco…
_Tens mesmo o bilhete do camarote? Onde é que o arranjaste ..?
_ não te digo !! tenho !! e é hoje ! …rias-te …

Esperávamos  há meses pelo concerto do Gilberto Gil , ao vivo no Coliseu . Ouvíamos todas as músicas, vezes e vezes sem conta.
O “Realce”, rolava no gira-discos, sempre para o mesmo lado e sem tonturas ! Ouvíamos e dançávamos, horas seguidas, tardes inteiras. Sabíamos as letras de cor.

“Realce …..Quanto mais porpurina …melhor …l ala la ….”

Pulávamos , e respirávamos tudo o que era positivo naquelas músicas que nos faziam crer que tudo, mesmo  tudo e apesar de tudo  …iria ficar sempre bem .

_ tens mesmo os bilhetes ??!! Eu nem acredito
- È um bilhete só , parva ! É um camarote …
_E quem é que vai ?
_ Vamos nós todos …
- Mas somos mais que cinco….
_Não faz mal, vais ver que cabemos lá todos .

Doía-me a barriga , a espera dava-me cólicas, ou formigueiro… as horas não passavam !

_ Põe o “Realce” outra vez …

O disco dançava connosco, sem saber o que nos fazia, rodava e rodava . A agulha gasta dava mais carácter aquela voz clara.

_ Jantas cá ?
_ Tenho que telefonar para casa …. A minha mãe vai já dizer que não …mas enfim …não vou perder este concerto nem por nada .

Peguei no auscultador do telefone , era preto e reluzia … disquei os números , 3---1---3---7---6---, nessa altura os telefones tinham poucos números  e eu gostava de prender o disco com força e ouvir o ruído da marcação do número.

_ Está …sou eu mãe…Olha ..? Posso jantara aqui … e ir ao concerto do Gilberto Gil , logo à noite ?
_ Olá filha, podes. Claro que podes, tem cuidado. Vai ver o Gilberto Gil que é muito bom. Por favor não venhas tarde.
_Posso mãe??!!     Posso mesmo ? – Está bem eu não vou tarde , prometo . Beijinho mãe, obrigada .

Desliguei o telefone , e nem queria acreditar …

_ Posso ir ! A minha mãe deixa-me, e posso jantar cá. A que horas vem a tua mãe ?
_ Sei lá, vem sempre tarde …fazemos uns ovos mexidos e vamos , temos que lá estar cedo .
_embora até ao café ver quem lá está …temos lugar para cinco !
_para cinco…ou mais !! quantos couberem ….

Ríamos sem parar.

Chegámos , devagar porque não corríamos , quase nunca corríamos .
Chegámos como quem não quer a coisa.

_Sabem que mais ???  temos um bilhete para um camarote , para ver o Gilberto Gil , hoje …

Olharam todos para nós como se nos estivessem a ver com cabeças de porco !

_ A sério ?!
_ Sim …a sério… quem é que quer vir ?

Todos queriam ir , claro . Mas o bilhete era só para cinco …

_ Os camarotes só têm cinco cadeiras …
_ Não faz mal , ficamos uns em cima dos outros …ficamos em pé !
_ Por mim tudo bem , se nos deixarem entrar …
_ Mas como é que tens o bilhete ?
_ arranjaram-me …
_Quem ??
_ Um amigo da minha irmã , que conhece o Gilberto Gil ..
_ Mentirosa ! És tão mentirosa …ria-me...

Ninguém acreditou 
Dizias isto com um ar de quem não dá importância nenhuma .

Os rapazes olhavam uns para os outros , com olhos que falavam …. _ arranjas as cenas para logo ?

_ Ok arranjo, do melhor …
_Ok , mas vê lá o que é que arranjas , não quero gajos a mandarem-se do camarote lá para baixo  !

Ouvia e não queria saber se queria ouvir ou não.

“ Seja o que Deus quiser, é um concerto …e vou-me querer rir!” pensava sem fazer barulho .

Nem comemos nada de jeito, fomos todos fazer ovos mexidos com batatas de Pála- Pála , e engolimos uma comida sem sabor .

O disco continuava a rodar …sem parar, as colunas estavam no máximo, e dançávamos de prato na mão , depenicando bocadinhos de ovo e batatas fritas .
Desacertava-mos os passos ao som dum reage tão suave , tão envolvente …

Apanhámos o  44 , que nos deixava na Av. da Liberdade, depois era um instante até ao Coliseu .

Quando chegámos à porta, já se amontoava uma multidão que ansiava por entrar por ali dentro, ainda faltavam algumas horas para o concerto.

Bebemos cerveja num café , mesmo ali  em frente , bebemos cerveja até as portas , do Coliseu, abrirem …nem sei quantas cervejas bebemos .

Apagávamos os Sgs Filtros nos gargais das garrafas de cerveja  , os rapazes guardavam as pratas dos maços de tabaco , mais tarde faziam os cachimbos .
Entramos todos no meio dum enorme empurrão, quase que não havia controle nas entradas , e nós só queríamos ouvir o “Realce”  e o, …”no woman no cry……” ao jeito do Bob Marley  , cantarolávamos pelas escadas cima.

Cabíamos todos no camarote, eu fiquei  “à janela” , as meninas à frente para verem melhor , os rapazes atrás ..para arranjarem “as coisas” .

Fumávamos cigarros ,…. Naquele tempo fumava-se nos concertos do Coliseu.

O Gilberto Gil entro no palco, as luzes acenderam-se,  eu hipnotizei-me , imediatamente, pela enorme estrela dourada , pintada na sua cabeça , quando se voltou …vi que tinha uma Lua do outro lado

As luzes faziam com que brilhassem , faziam reflexos de pequenos cristais de caleidoscópio , eu olhava fascina … e …ia fumando o que me passavam para as mãos , cada vez mais feliz , embriagava-me no som , nas letras e naquela estrela virada para mim .

Não me voltava para trás , só sentia o calor de todos os corpos que se moviam perto de mim , ao som da música . Entre odores e fumo, não sentia mais nada , só o ritmo e o fascínio das luzes .
As luzes faziam brilhar a Estela e a Lua … que pareciam enormes …

Sem me aperceber , batia palmas sem ritmo …

Não acertava o compasso, as mãos não obedeciam ao ritmo da música que se instalava dentro de mim…

olhando para as pessoas , lá em baixo, pela “ janela “ do camarote, via toda a gente a bater palmas num compasso que já não era o meu , as luzes começaram a brilhar com mais intensidade….

Ia batendo palmas , assim como sabia , fumava o que me passavam para a mão , entre cigarros e cachimbos  ..Descompassava-me, cada vez mais.

Apercebi-me que me assustava, que já não compassava, que já não me sabia  obedecer , que já não “mandava” nos meus gestos, e a partir daquele momento…nunca mais fumei o que não sabia .

Depois de vários retornos ao palco, o Gilberto Gil acabou o espectáculo. Assobios que pediam mais , e mais .

Palmas compassadas que não ritmavam com as minhas  .
Saímos no meio duma massa de gente feliz, estavam felizes , pareciam felizes… todos se riam .
 Eu deixei de rir, assustada com o meu descompasso,

Voltámos para os Olivais. No caminho cantavam as músicas que ouviram no concerto, eu …estava calada , olhava-os com os olhos muito abertos …esperando que passassem as horas e que me conseguisse ritmar outra vez .

Demorámos imenso tempo a chegar aos Olivais , a mim pareceram-me horas infindáveis , as paragens estavam cheias de gente , que bem nos tinha sabido um carro naquela altura , mas carros ..não os havia assim para toda a gente .

Ríamos por isso mesmo e por tudo e mais alguma coisa

Chegámos ao “prédio” alto, nos Olivais , eu nem sabia como iria para casa …

Ficámos a “matar” o resto do tempo sentados nos degraus das portas , continuavam a fumar …. Eu não queria fumar mais nada . Já não me ria, já não me dava vontade de rir …

_ Vamos até minha casa? Ficamos lá um bocado…
_ Está bem , eu nem sei como vou para casa agora , tenho medo de ir sozinha…tenho que atravessar o Vale do silêncio ….a esta hora …e já foram todos para casa…

Entramos em casa, era mesmo ali,  no R/C , do prédio alto, nos Olivais .

Sentimos vozes e luzes na sala do sofá amarelo . Falavam brasileiro, parecia brasileiro , e naquela altura era tão bom ouvir falar brasileiro…
Ouvimos o som baixinho duma guitarra … alguém cantava , assim com uma voz exactamente igual  à que tínhamos estado a ouvir durante horas,

 Olhámos uma para a outra , incrédulas,  abrimos a porta da sala do sofá amarelo .

E sem acreditarmos, vimos quem cantava assim tão suavemente. Sentado no sofá amarelo, acompanhado com mais duas ou três pessoas , estava o Gilberto Gil, horas depois do espectáculo, a tocar ali,  naquela casa no meio dos Olivais.

_ Tu estás acreditar no que estás a ver…?
_Não …não estou

Desatámos a rir … mas porque raio é que o Gilberto Gil ali estava ….?!

_-tu sabias que o Gilberto Gil vinha para tua casa ?
_ Eu não !?

“..não …não chore mais …. No woman no cry…..”…. os dedos brincavam com as cordas da guitarra .

Parecia não estar a acreditar no que via
_ Mas olha lá …que raio de coisa esta …mas porque raio está o Gilberto Gil em tua casa …?

 “ …quanto mais purpurina …melhorrr….”    e recordava a música , e a estrela agora já não brilhava tanto..nem a lua , eram douradas , pintadas a ouro .

_ Espera …vou perguntar à minha irmã … o que se passa aqui …

“realce…..realce….quanto mais serpentina  melhorrrrr….”…
.
o susto já me tinha passado, e meio embasbacada , sentava-me na pontinha do sofá amarelo , ele sorria-nos com uns dentes tão brancos e com uma voz que nem se explicava ,,,,

“..não desepera quando a vida fere fere …realce …realce quanto mais serpentina 
melhorrrr….quanto mais purpurina ..melhorrr …”

_ Já sei ….já perguntei à minha irmã , parece que o  motorista do Gilberto Gil , é amigo da minha irmã…e resolveram vir cá para casa no fim do espectáculo ….

Olhei com os olhos muito abertos ….Desatámos a rir às gargalhadas … sempre queríamos ver se amanhã, os outros acreditavam em nós …

_ hahaha , amanhã ninguém acredita em nós !

Ríamos e ríamos e começávamos a cantarolar as músicas que ele nos tocava , assim como um presente que nos dava , entre cervejas , cigarros de fumo e gargalhadas espalhadas no meio do som .

_ Eu nem acredito … phá! Mas que raio de coisa…e tu sabias disso
_ Eu não …

E assim ouvimos um mini- concerto , depois dum grande concerto, o mais inesperado da minha vida .

Ficámos por ali sentados no chão, encostados ao sofá amarelo ,  até o Sol nascer e a Lua adormecer... 

continuando assim....
TMQ

sábado, 5 de novembro de 2011

Rosa Crucificada

O sacerdote que fornica a rosa não foi tentado,

Essa foi a sua intenção.

Ele, pervertido mor,Come a carne com gula,

Demanda o que lhe é negado.

Trapaças e teias de fantasia,

a catarse prometida, mentira rosada


Quando o sino toca, e o silêncio volta,

Caminhas com cautela, pões a batina no armário,

sedento de boémia, entras no quarto dela,

Começa o bordel no santuário


O véu cai, tocado pelos teus dedos

Mordes-lhe os seios,

sem receios, sem medos.

Ajoelhas-te, sereno, devoto à reza habitual,

olhas a rosa enfeitiçada,

e a tua língua desliza, ao encontro do prazer carnal


A contorção do seu corpo, a tua volúpia.

Procuras desafogo, desejo desmedido

Sacrifício de uma rosa sem espinhos,

Obediência cega, um orgasmo concebido.


Carne contra carne, veneno que escorre,

Suor febril, delírio algo vazio.

Um arrepio arrojado,

depois do acto consumado.

Repara... só tu é que acabaste molhado!


Frederico Vanesgard

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Amanhã …provavelmente...morreríamos outra vez!


Estava um calor que secava gargantas.
Trabalhávamos num escritório mínimo cheio de cadeiras de madeira velha, secretárias de fórmica e antigos papéis mata-borrão em cima de tudo o que se parecia com uma mesa.

Naquele escritório, raramente apareciam os advogados que o arrendavam. 
Ali nunca nada se passava, os dias eram cheios de silêncio, a luz morria em lâmpadas de vinte velas. Ali, não víamos nada nem ouvíamos nada, só porque aquilo, por ali ,era menos que quase nada.
 Não tínhamos muito que fazer, só pequenos afazeres burocráticos e bafientos. 
Morríamos dia a dia .
E tão bafientos nos sentíamos, desarranjados de vontades e adormecidos de sensações que desmaiávamos todos os dias, caindo na  letargia instalada
Aquele devia ser o Verão mais quente, que eu me lembrasse …

Chegávamos ao escritório com pouca roupa e com a pele luzidia e banhada em Sol matutino.

Eu imaginava-me uma executiva, num arranha-céus de uma qualquer cidade europeia, e mordendo a ponta da caneta, lá me sentava em cadeiras escangalhadas…
A Elsa, vestia sempre qualquer coisa que lhe marcava, de forma sensual, os enormes seios que pareciam querer saltar da blusa de licra preta .
Os mamilos endureciam, cada vez que Elsa lhes tocava distraidamente … olhava para  Carlos, que se sentava mesmo à sua frente.
Elsa imaginava e quase que conseguia sentir, as pontas dos dedos de Carlos a passarem leve, casualmente... junto aos  mamilos que espreitavam no seu decote, e se escondiam num apertado sutiã branco que marcava rendas escondidas numa blusa preta. 
Olhava distraidamente para Carlos, começava a sentir um latejar agradável quando comprimia as pernas quase sem dar por isso. Passava a ponta da língua nos seus lábios carnudos, humedecia-os de propósito, semi cerrava os olhos e tudo fazia para sentir a perturbação evidente de Carlos.

Carlos olhava Elsa de um modo disfarçado. Não conseguia desviar os olhos daqueles mamilos proeminentes, duros, desenhados na blusa decotada. Fechava os olhos míopes , escondidos em  óculos de tartaruga , imaginava o sentir da sua língua rodeando os duros mamilos, enquanto as suas mão afagavam suavemente e com força aqueles seios que lhe pareciam tão firmes.

O calor húmido que se sentia no ar, fazia com que as suas pernas se colassem à cadeira de napa, mexia as pernas e estimulava assim uma erecção quase permanente. Tocava o seu pénis ao de leve e pensava tocar os mamilos de Elsa. Como seria a sua cor? Imaginava-os claros, como pétalas de flor, imaginava-os macios, imaginava-os rijos, imaginava que os trincava devagar, imaginava ouvir os gemidos surdos de Elsa.

Eu contemplava todo aquele mágico teatro, todas as mágicas cenas, tudo aquilo que lhes poderia passar pela cabeça, e nesta minha húmida imaginação sentia a minha roupa interior que começava a colar-se em mim.

Carlos, por si só, não me excitava. Elsa também não.

Excitava-me imaginar que se tocavam, ou que pensavam tocar-se. 
Quanto mais pensava ver os dedos do Carlos a apertarem os mamilos de Elsa, mais molhada me sentia, devagar acariciava um clítoris que crescia quase sem eu lhe tocar, nem parecia o meu...
Se lhe tocasse agora, sei que teria que gemer. 
Tocava-me, e disfarçava o gemido no meio de uma tosse inventada.

Era assim todos os dias, no meio dum calor sufocante, sentados em cadeiras velhas, respirando ares de bafio.
 
Dia após dia, nunca finalizava o meu secreto prazer, prazer que começava a sentir assim que chegava ao velho escritório.
Um dia, por um acaso da vida, chego mais cedo.

Abro a porta devagar, quase que não fez ruído ao abrir. Sento-me na cadeira à entrada da porta, espreitei pela nesga de porta aberta … oiço um gemido abafado … de onde vinha aquele som... miado sedutor …? Abri a porta da sala devagar e espreitei…
Naquela manhã, alguém tinha chegado mais cedo do que eu.

Elsa e Carlos envolviam-se em sons mal cantados e carícias molhadas. Deixei-me ficar, quieta, olhava as mãos de Carlos que acariciavam os mamilos rosados de Elsa, enquanto passava a língua, suavemente, na parte interior das suas pernas.
Elsa gemia, pedia-lhe, num sussurro,que a língua não parasse de percorre toda a sua vagina, que de tão húmida reluzia. Carlos acedia ao pedido, tocava as pernas de Elsa com a língua e encostava-lhe, quase sem querer, o seu enorme pénis. 
Devagar, muito devagar, roçava o grosso pénis na suave e branca pele de Elsa.

Comecei a sentir as minhas calças húmidas, incómodas e apertadas. 
Podia tocar-me sem ninguém ver.
Desci as calças de algodão e acariciei, sem medo, toda a zona que gritava entre as minhas pernas, de tão molhada escorregavam-me os dedos.

Carlos explorava Elsa com a sua língua e numa força repentina voltou-a, deitou-a na velha secretária de fórmica, e quase sem ruído penetrou-a, enquanto as suas mão lhe acariciavam os seios com força, Elsa, ao mesmo tempo, estimulava o seu clítoris.
Foi nessa altura que entrei na sala, sem darem por mim.
Já estava meio despida, só com os seios tapados, comecei a tocar e a beijar, delicadamente, os testículos salientes de Carlos. Carlos voltou-se, olhou-me com os seus olhos miopes,sem aros de tartaruga morta ,  e sorriu-me, a sua boca procurava a minha e encharcamos-nos num beijo.
Repartia agora as suas mãos, entre os seios de Elsa e o meio das minhas pernas…
Elsa percebeu que algo se passava, e voltando a cabeça para trás pedia a Carlos que a penetrasse com toda a sua força.
E num momento só… experimentámos ao mais intenso prazer das nossas vidas.
Carlos fazia-me deliciar nas suas mãos, Elsa se perdia -se  ao ser possuída pelo  enorme e duro pénis.
Esperava por nós, e quando atingiu um denso orgasmo, repartiu-o entre a flor rosada de Elsa e a minha sedenta boca.

Estava na hora da saída, esperavam-nos as filas enormes nas paragens apilhadas de gente morta esperando autocarros desconchavados. 

Vestimos-nos à pressa , em silêncio e em sorrisos, e cada um seguiu o seu percurso dentro de um corpo ainda húmido, ainda vivo…

Amanhã …provavelmente....morreríamos outra vez!

Novembro - 2011
TMQ - Continuando assim...






Cá estou !!

Antes de qualquer outra coisa que possa escrever por aqui .... o meu obrigada !!

Teresa Maria Queiroz
continuando assim...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Deformidade



À nascença eram perfeitos. Vinte dedos, pulmões limpos, grito agudo contra a liberdade puxada com ventosas. Um forte rapagão. Uma doce menina.

Nessa mesma noite, uma lâmina de lua roçou o seu rosto e obrigou-o a abrir os olhos. Entre uma sístole e uma diástole, o seu coração cresceu um milímetro. Ninguém reparou no seu olhar branco.

Na manhã seguinte, estilhaços de sol cravaram-se nas suas pálpebras e forçaram-na a abrir os olhos. Entre uma diástole e uma sístole o seu coração encolheu um milímetro. Ninguém reparou.

Quando o tempo o fez homem, já não tinha espaço no peito. Uma enorme massa de músculo, sangue e veia insuflava-lhe a pele convexa e arqueava-lhe as costelas. Como podiam os doutores da ciência não ver a deformidade no seu corpo e na sua alma?

Quando o tempo a fez mulher, já só tinha espaço no peito. Um poço seco e sem compasso erodia-lhe a pele côncava e implodia-lhe as costelas. Como podiam a ciência e os seus doutores não ver?

Tentou perder o que sobejava em muitos lençóis, dividi-lo por vários corpos. Mas a resposta não estava nos dedos de mulheres mortas gadanhando as suas costas, no lábio mordido até ao sangue pelo prazer comprado, na submissão do seu sexo à torpitude sem rosto, no desejo a confundir-se com a agonia. O seu tormento não se expurgava com espasmos fáceis drenados numa qualquer viela escura.

Tentou encontrar o que faltava em vários lençóis, um corpo que estivesse disposto a dividir-se com ela. Mas a resposta não estava nas bocas de homens mortos nos seus seios, no sexo sem prazer oferecido até ao sangue, no abandono a línguas sem rosto, na agonia a confundir-se com o desejo. O seu vazio não se enchia com bocados de desconhecidos engolidos num qualquer beco escuro.

Às vezes irrompia pelos campos oferecendo-se ao enredo das silvas, deitava-se no chão e esperava que os bichos da terra viessem devorar aquele tumor feito de morte.

Às vezes oferecia-se aos campos deixando-se romper pelo enredo das silvas, deitava-se no chão e esperava que lhe crescessem raízes para devorar a vida.

Outras vezes fechava as luzes, segurava os joelhos e imaginava a incisão perfeita que lhe permitiria meter a mão, arrancar a besta e vê-la deixar de pulsar entre os dedos.

Outras vezes fechava as portas, tapava os ouvidos e imaginava o corte perfeito que lhe permitiria meter a mão no vácuo e deixar o seu resto de humanidade escorrer-lhe por entre os dedos.

Sufocavam.

Sobreveio o desespero, a única força que escala até ao eremitério mais alto da dor sabendo que não haverá descida. E foi nas cumeadas dessas serranias que os caminhos da sua mortificação se cruzaram. Os seus olhos encontraram-se, as mãos despiram o resto dos trapos e, sem uma palavra, os seus peitos deformados encaixaram suavemente.

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...