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Imaginem só, como dizia o Lennon
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Um mundo sem ganância, desespero, crueldade
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Sem traço de violência, avareza ou maldade
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Onde me sinta digno, digno de ser um entre tantos
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Tantos que por aqui passam, sem se dignarem a olharem
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Absortos, entre pensamentos vazios a vogar
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Compram pedaços de si entre perfumes e consolas de jogos
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Decidem quem são pelas marcas e logos
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E constroem castelos no ar
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Com total desprendimento por quem está a olhar
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Por quem procura atenção, consolo ou um gesto gentil
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Longe do ritmo demente e febril
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Dos que por terem posses não se possuem de verdade
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E no afã de consumir se consomem e ardem
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Queimando o que há, o que houvesse para ter
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Relegando em vida o verbo ser
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E eis-nos como formigas, aflitas e histéricas
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A correr entre lojas centrais e periféricas
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A procurar o que não temos por ser o que não somos
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Louvamos um deus menino para não parecer mal
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Mas o nosso deus encarnado chama-se pai natal
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E corremos, compramos, encantados deixamos
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E se alguém desistir da loucura, reparamos?
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Se entre nós um mártir estiver a olhar
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A aguardar o seu momento de poder actuar
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E um colete de explosivos detonar
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Enquanto olha uma ultima vez para o pai que arrasta a
criança
Suspira e lamenta a perda de esperança
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E despeço-me de um mundo que nada me diz
1
E penso no que seria um Natal feliz…
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[. . .]
Tao vívido e lúcido, tão desesperado. Excelente a ideia dos segundos em countdown enquanto traças o quadro do vazio espiritual. Excelente detonação. traduzes muito bem aqui o que muitos sentem da quadra. O Natal a sério, ao vivo e a cores, num centro comercial perto de si.
ResponderEliminarParabéns, já tinha saudades de te ler.
Ora cá está, o Natal...
ResponderEliminar"E se alguém desistir da loucura, reparamos?" :)
"Compram pedaços de si entre perfumes" é uma imagem fortíssima que sintetiza o abismo de acumulação e aparência em que caímos... criaturas insatisfeitas à procura de algo que nos defina ou que fale por nós em etiquetas, frascos e montras (infelizmente não apenas no Natal).
ResponderEliminarGosto da estrutura em contagem decrescente, da desesperança do teu homem-bomba, da sua frágil (e cruel) tentativa de ignição da mudança.
Fantásticamente real...
ResponderEliminarmas este lago negro e consumista do Natal não tem de ser (pre)dominante...a opção de desistir da loucura, tornando-se assim menos alheado da realidade (embora mais louco na aparência aos olhos de quem não se interroga sobre a própria sanidade) não tem de ser consumada com o desespero do homem bomba...essa deveria ser a excepção...e sim, há caminhos mais luminosos.
Não queres escrever um final alternativo?
"E penso no que seria um Natal feliz…"
:)