terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Circo à la minute




Na tenda do chá, onde os pensamentos fervem em poucos malabarismos e as palavras querem-se sem açúcar, trocam-se duas colheres de conversa.

Apesar de não existir uma porta a trancar a entrada, nunca aparecem mais presenças e isso torna a atmosfera da tenda como o interior de um balão de ar quente. Por esse motivo o bule foi dispensado por falta de utilidade e mais tarde foi contratado o sopra-chá, que para além de soprar para dentro das chávenas, não tem consentimento para fazer mais nada. Sopra à vez, de forma neutra e usa um sopro diferente para cada chávena por uma questão de higiene.
A água para a infusão, essa, escorre pelas paredes suadas da tenda e deixa todos inquietos com o movimento de bailarina destas. Quem morre de ansiedade são as saquetas que incham de contentamento só por imaginar a água trapezista.
Finalmente, as colheres tilintam contra a porcelana murmúrios convexos no mesmo instante em que o vórtice aturdia o olhar do sopra-chá.

Ao fim de algum tempo, o som metálico, ritmado e desencontrado da infusão faz cara de palhaço e todos escondem o sorriso dentro da chávena. Lá em cima, longe dos olhares horizontais, o pires roda na corda bamba, a mesma corda que segura a saqueta do chá...

3 comentários:

  1. E eu que não gostava de circo e casas de chá.... Se inspiram textos como este deve haver algo neles que me escapa. Se calhar só funciona quase se interseccionam....

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  2. TiiL, não me poderias dar melhor presente de Natal. Está simplesmente fabuloso

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  3. Gostei, mas encontro estas (aqui e ali) nas palavras assinadas por outros.

    Os seus tem sido, nos ultimos meses, os unicos textos que valem a pena ler neste blog. Um oasis portanto. Parabéns

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