O dia do casamento. Era o dia do casamento e ninguém estava
convidado. O Lúcifer mostrava-se entusiasmado, demonstrando a cada minuto o
quanto desejava aquele casamento. Belzebu também apaixonado, mas com receio,
porque Lúcifer sempre fora muito inconstante e casar desta forma não o deixava
seguro.
É que nem os padrinhos tiveram tempo de ser avisados. E a
roupa? Casar com roupa trivial de morte perante o Padre Deus… Não sabia como
poderia correr bem.
Já Lúcifer pedira para decorarem o local do copo de água,
algo simples, à pressa, mas belo e celestial, em tons de Satã quando foge.
Alguns, poucos familiares ajudaram, porque para muitos deles já era sem tempo
esta união. Finalmente.
Mas falemos do pedido de casamento, que foi feito dez horas
antes do “sim”. Lúcifer, caído (mais uma vez) aos pés de Belzebu, proferiu as
palavras cruéis e com lágrimas nos olhos, fez com que Belzebu não conseguisse pensar
em responder “não”, ou “vou pensar”, nem sequer “dá-me mais uns dias”.
De morcegos na barriga, Belzebu olhou para o espelho e
imaginava algo mais preparado e pensado, mas por outro lado, casar assim
poderia ser o melhor. Não haveria tempo para chatices, se alguma coisa corresse
mal, teriam sempre a desculpa do “em cima da hora”. O seu aspecto não era o
melhor, os olhos estavam muito vermelhos, a pele muito seca, as unhas muito
grandes e encaracoladas. Mas Lúcifer, sempre meigo e como bom futuro marido
segredava-lhe ao ouvido “estás tão bonito como no dia em que te conheci, mais
bonito ainda amor”.
Já os dois no altar, porque não tiveram tempo de arranjar alguém
que tocasse a marcha nupcial, perante o Padre Deus, uniram as mãos e baixaram a
cabeça para receber a bênção. E que bonito que foi. Rápido e bonito.
À saída da igreja, os poucos convidados que tiveram tempo e
fizeram gosto em comparecer, atiraram moscas mortas aos dois casados de fresco.
Dizem que dá sorte. E agora a melhor parte: a fotografia na escadaria da
igreja. (Escusado será dizer que não conseguiram contratar um fotografo.) Os
noivos ao meio, os convidados espalhados pelas escadas para dar a ideia de
serem muitos e o Padre Deus à pressa lá tirou a fotografia antes que o céu lhe caísse
em cima. Depois fechou-se na igreja e possivelmente foi para o altar
chicotear-se.
Copo de água. Foi um bocadinho aborrecido, Belzebu não gosta
de dançar. Fogo-de-artifício oferecido por Mefistófeles. Rápido e bonito,
também.
Lua-de-mel: isto de ter asas facilita a viagem até lá.
Ficaram na lua quinze dias. Fica por decidir que criança irá nascer morta para ser
filha deles. Viveram felizes para sempre.
Para além da imaginação, criatividade, a superioridade da narrativa.Mesmo que não sejam metáforas...
ResponderEliminar(Viciada na tua escrita pluri-facetada e de mo[VI]]mentos carismáticos)