quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Cortar pelo tracejado



A menina do sono confuso
Deveria picar o dedo num fuso
E da ponta do dedo nasceria um tracejado
Feito com caneta de feltro e mal-amado
Iria de traço em traço até ao umbigo
Iria de traça em traça até ao jazigo

Dormiria em grãos de café
Para ter sonhos de dar ao pé
Ou alinhavaria insónias aos lençóis
E teria noites rápidas como os caracóis
Ao amanhecer beberia chá de tília
Para agradar às tias da família

Vestiria saias de princesa
Com corpetes de turquesa
E sapatinhos com fivelas
Para dar à sola nas ruelas
Prenderia os cabelos dentro do chapéu
Num belo sudário para o céu

Por fim ao fim de muitas estimativas
As más-línguas fazem doer as gengivas
A menina de dedo picado
Passa o traço pelo olho vidrado
Agarra com a mão na cavadeira
Só irá parar no branco-caveira

3 comentários:

  1. um caso sério de excesso de imaginação e de diabo-à-solta
    luv it

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  2. A menina do sono confuso
    Tem estas visões de surrealismo iluminado
    Serão o ciclo circadiano avariado
    e as insónias que lhe afinam o talento?
    E a quem lê as histórias
    picotadas no teclado
    pelo seu dedo tracejado
    Só lhe ocorre dizer 'obrigada por este bocado'. :)

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  3. É lindo, não é? Mas é meu. A menina que alinhava insónias ao lençóis com caneta disse que este é para mim (língua de fora). E não, não divido com ninguém.....

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