sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dedos de perfume



Há em ti  um aroma a sorrisos pueris sempre que o teu olhar me acaricia as mãos pousadas nas memórias que nos levam para as manhãs em que te acordo com um respirar mais acelerado porque há em ti um sabor a pétalas que me inebria o sexo húmido pelo teu (en)canto e me grava na pele relevos primaveris, como os rios que saltam as margens em tempestades de nós, como os cavalos selvagens em desabridas corridas nas planícies que formam uma ponte entre as nossas almas que t(r)ocamos cada vez que nos perdemos e achamos, um no outro, tu em sintonia com os sussurros murmurados ao meu ouvido esquerdo quando o meu corpo se ergue sempre que o teu se esvai em mim.
E agora______________Apetece-me que me sorrias nesse encanto com que me esqueces e te esqueces de nós nos dias em que os telefonemas escasseiam e os olhares se dispersam em luzes fugazes de raios lunares, porque o sOl é nuvem que não passa. apenas eu num passo-a-passo com o tempo que não me deixa deixar-te. mesmo quando as tuas mãos são as minhas mãos, tão pequenas, tão tuas, a fechares-me o vestido de pele nua, a apertares-me o colar de  pérolas e o pescoço no sexo sem tabus, aroma a petúnias cultivadas no teu jardim de Verão, onde ao poucos as cores são códigos para o amor que demora. são dedos, ágeis, longos e firmes que me emprestas quando estou longe, dedos de espanto, escancarados de prazer, quando se passeiam em mim, apertando-me os mamilos, despertando sensações de toques de guitarra dedilhada pelos teus dedos entrelaçados nos meus, que escrevem sms quando o decalque do teu  corpo descansa em mim. à distância de quantos dedos quiseres. dedo que me apontas pela verdade que lembro. dedo que estico quando te quero indicar o caminho de regresso, sabendo que partida pode ser também meta, nos orgasmos que não teremos, imaginando que NÓS de dedos cegos de paixão, me massajam as costas tensas pela ausência de notícias. e é quando os teus dedos desenham beijos nos meus lábios que escondem os perfumes que me deixaste nas coxas, quando os teus dedos e sempre os teus dedos excitam líquidos secretos que alisam a minha pele que sabes tocar, que (te) sei quantos dedos fomos.

domingo, 3 de março de 2013

2 tanka imperfeitos para 1 poeta perfeito



(Para a Inês, que gosta que lhe ofereçam frases)





Gumes e arestas
Cortam-me  as mãos
Fios de sangue
Enfio a agulha
Coso o meu coração

Espinhos e vértices
Furam-me os dedos
Pingos de sangue
Encho o tinteiro
Escrevo o meu coração


 Fotografia: Karl Blossfeldt

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Os velhos


De certeza que foi um velho que me pegou isto. É por isso que não gosto de sair de casa… sei que me vou cruzar com os velhos do 1º direito.

Há dois dias comecei a usar fralda, a não controlar essas vontades básicas. Se antes não era assim, de certeza que foram os velhos, só de respirar o mesmo ar, o mesmo espaço.

Depois reparei em como está diferente a minha mobilidade, a minha quase-praticamente independência de movimento. Agora sou uma alface, flácida, que só mexe os membros por pequenos impulsos. Fazem-me tudo, inválido, eu. Sim, eu.

E alguém percebe o que digo? Escapam-me sons estranhos aos dos mortais não doentes, letras soltas, sons ocos, guincharia… e tudo isto acompanhado de muita baba a escorrer pelo canto da boca.  

(Acabou de sair-me um cocó agora)

Ainda hoje queria apanhar um bocadinho de sol, isso a que chamam passeio, e tive que ir numa cadeira de rodas. A empurrarem-me, a depender da misericórdia de alguém que faz um frete e assim conquista o seu lugar no céu.

Porquê a mim? (cliché, cliché, je sais!) Mas nunca precisei disto, tanta gente que se cruza com os velhos e não os vejo a ficar assim. O meu sistema imunitário deve ser muito fraquinho… ou começou a ser. Claro, claríssimo e mais uma vez a causa deve ser o contágio. 

(Se não berrar agora, fico com o rabo todo vermelho, já sinto a pastosidade a subir-me pelas costas, a transbordar a fralda de velhos. Berrar! Porque nem cú consigo dizer).

E o comer, custa-me engolir. Só líquidos e mesmo assim engasgo-me, fico roxo e dão-me palmadinhas nas costas. “Tão? Já passou? Ai, ai, o glutão!”

Devo morrer em breve e choro a noite toda por isso. Espero conseguir ir à minha primeira consulta de saúde-infantil. Talvez isto tenha cura, se os meus pais pagarem a um bom pediatra, talvez ele me cure.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pétalas de mármore






são lírios do campo estas letras com que te espero sentada na penumbra do teu canto bordado a línguas de fogo com que me gravas claves de sol nas noites de lua cheia de ti e das saudades que desprezas mesmo quando a fruta se espalha sobre a mesa num quadro recorrente de incompreensões sem data.

são rosas meu amor, de espinhos cravados nos dedos quando te sei rei, dum condado inventado pela memória com que construímos o passado num amanhã debruado a ouro sobre o azul do teu olhar.

são cravos de paixão pela liberdade que  conquistamos cada vez que respiramos num assombro de dança, tango em ri(s)os virgens de flores decapitadas.
são pétalas de mármore, cristalizadas pelo suor do teu corpo no meu, quando ainda não éramos nós...

Somos nós, para sempre.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Cieiro



Depois de pôr o batom do cieiro nos lábios, a menina com chuva olhou-se ao espelho.

Deitou um pacote de açúcar na cama e despejou-se em cima. Hoje não tem vontade de sentir-se bem.

Chama-se menina com chuva àquela que por coincidência ou super poder leva chuva para onde vai. Certa terra em dia de Verão leva com chuva se essa menina para lá for. Certa terra em dia de Inverno fica sem chuva se essa menina de lá partir.

Levantou-se pegajosa, vestiu-se e foi correr. Os poros vomitavam suor salgado que nauseadamente escoriam no meio de tanto doce. Olhou para o céu… “se ao menos a água que cai fosse exsudado das lesões por humidade que as nuvens têm.” Chorou. Muito.
Já em casa e de olhos inchados, usou bolinhas de algodão embebidas em lixívia e passou suavemente pelas pálpebras. Aclarar as ideias. Sentou-se no sofá e esperou pelo sol. Esperou e quando chegou ao “u” fartou-se e foi fazer bolachinhas. Amassou, enformou e pôs canela por cima. Esperou pelo tempo com mais paciência, tirou as bolachas do forno e comeu quantas o estômago permitiu para que depois as pudesse obrigar a sair pelo caminho inverso.

A campainha tocou e a menina com chuva não ouviu.

Tinha acabado de entalar um dedo na porta do armário e olhava a unha estalada. Fez o curativo com álcool (na verdade foram 20 minutos com o dedo mergulhado).
À noite jantou cubos e gelo. Guardou os bocadinhos de dentes que cederam dentro do saleiro e pensou ir deitar-se. Pegou no saco do lixo, encheu-o até metade com água da chuva. Já no interior da arca frigorífica, meteu-se dentro do saco. Em posição quase fetal e só com um braço de fora, esticou-o e com a ponta dos dedos conseguiu fechar a arca.

Adormeceu com alguma facilidade. Ainda bem. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Jantar



Isto sabe-me tão bem como sal nas aftas.

Andava o cloreto de sódio preso na toalha da mesa.

E depois soube que tinhas trauteado músicas com a cabeça dos dedos nessa toalha. E pronto, isso bastou para cair de lábios nesse lugar. Era só um beijo, o mais próximo de ti que se conseguia. Mas ardia muito. De lacrimejar.

Varri com a mão as migalhas do pão mais aquelas que se colaram à toalha e que por isso deixaram nódoas. Segui com o dedo a marca redonda do copo tinto. Sei que brincaste nervosamente com a ponta do guardanapo e por isso fiz dele bolo alimentar só para saber o paladar da tua inquietação. Era descartável.

Raspei o prato onde comeste para dentro do meu e os restos prenderam-se nos dentes do garfo. O som dele a bater no prato era como se num casamento pedissem pelo nosso beijo. Outro.

Lavei à mão, com espuma de limonada entre os dedos de cada vez que os apertava para reanimar a esponja.

Não varri o chão. Não tenho atenção suficiente para desfazer as tuas pegadas debaixo da mesa, da cadeira. Aquilo que me garante que o teu peso em sola esteve ali. Quero deitar-me e pensar à noite que irei tomar o pequeno-almoço na marca dos teus pés. No colo delas.

Nessa manhã, já com a loiça seca no escorredor, sem a tua saliva (ou resto dela) passei o dedo com força no teu prato e obriguei-o a cantar tudo aquilo que as tuas garfadas lá deixaram. Senti-me tão má, tão de ânimo tremido. Débil.

Depois. A faca da manteiga arranca bem as vistas. Escrevi o amo-te na manteiga e raspei por cima para comer-te em torradas. 

Quanto aos vestígios oculares e porque aqui tinha de terminar de forma não original, fui buscar a esfregona e numa banda sonora digna de Hitchcock vi todos os meus devaneios a cair entre o espremedor. Bateram todos no fundo do balde.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Afterglow



hoje senti saudades tuas.

a chuva subiu pelas narinas provocando geada nos pés. encolhidos os dedos, a chuva continuou agora neve, nos cabelos curtos e mais ralos de ferrugem onde a fuligem dos comboios a vapor pincela telas de luz morta, ou apenas moribunda, dependendo da gravidade da água que agora desce para voltar a subir pelas pernas escolhidas pelos dedos encolhidos.
o senhor da farmácia fez uma careta à ingestão dos dois comprimidos, para que a dor parasse. a dor amenizou o corpo que buscava descanso e nem sequer toldou o pensamento, apenas fez esquecer a dor e é tão bom parar a dor, que do seu esquecimento apenas fica um suave mau-estar sem odor, porque se a dor fosse perfumada, nem morta me esquecia dela.

por vezes tenho saudades dos dias em que me passeavas, sem dores, pelos jardins da minha infância e da tua maturidade de homem imponente pela altura e pelo carácter.
a minha mão na tua, esmagada pelo anel de ouro com uma pedra azul. e eu perguntava-te porque não usavas aliança, se a mãe tinha. tu devias responder, mas algo sem importância, porque eu não voltava a perguntar e nunca percebi porquê. mas havia muitas senhoras que passeavam connosco, desconhecidas que ficavam a conversar contigo, sentadas no banco do jardim, enquanto eu me baloiçava, escorregava ou me rebolava na relva limpa sem dejectos de cães ou gatos, apenas joaninhas e lagartas pequeninas, alguns aranhiços e minhocas que eu encontrava quando tentava chegar, sem saber, ao outro lado do mundo. ou que se passeavam contigo e ficava eu no banco quieta, para não me perderes de vista.
parecias um actor de cinema e eras tão alto e elegante nos teus fatos sempre de alfaiate, nesse gesto de bater o cigarro na cigarreira de prata (que guardo entre tantas outras coisas) de acenderes o cigarro muito longo às senhoras desconhecidas (soube depois que usavam boquilha) esse gesto de me repreenderes com um olhar paralisante, sem precisares de dizer nada (e tanto que conversavas com as senhoras que a mãe denominava flausinas).
hoje lembrei-me de ti. e das festas que essas senhoras me faziam, eu a pensar que gostavam das minhas tranças até à cintura, ou do meu sorriso, mas tentavam apenas agradar-te, e tanto que o faziam, que por vezes te esquecias de mim e das horas e voltávamos à pressa para casa, tu no teu passo de homem alto, eu em pequenas corridas para te acompanhar, quase sem ter brincado nada.

os pés de neve derretem agora um pouco. e é salgada a chuva que me salta dos olhos, em pequenas gotas, sem subir nem deslizar, apenas em gotas que não me deixam ver-te.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

o quase-homem



O quase-homem quando nasceu
Não chorou, estremeceu e quase-soluçou
Enrolou-se na luz branca da primeira manhã
E quase-sentiu o beijo quente da sua mãe
Envolto num quase-suspiro de felicidade

Quando cresceu quase-aprendeu
Entre dores, esquecimento e ilusão perdido
Sobre o centro do universo e o amor quase-correspondido
Quase-ferido, totalmente despojado
De sentir, querer e quase-desolado

Quase-certo de suas decisões avançava
Por entre escolhas quase-pensadas pensava
Escolhia entre murmúrios e o eco inconstante
O quase-instante da satisfação, errante
Num quase-fóssil de luz guardada
Como um coração sem peito para bater, cuidada
Pulsante, como a quase-memória de um sentimento

Fez de sua casa um quase-lar
Onde quase-nada à mesa lhe poderia faltar
Desde a quase-tristeza ao poema por escrever
Tudo por fazer em tempo de vida, alheado
Quase-sonhava por uma rosa ser quase-beijado
Nunca colhida, quase-desejada e para sempre perdida

Num quase-momento de lucidez e quase-escolha
Pegou em livros e ligou-se ao mundo que sentia a chamar
Perdeu-se a navegar, trabalhar e pensar
E num quase-sufoco esmoreceu inquieto
Num espaço aberto, perdido entre milhares
Dos tais murmúrios, sussurros e apelos similares
Quase-distantes, interligados e sedentos
De propriedade de um quase-ser que quase-nada de si sabia
Apenas a quase-certeza de que lugar-nenhum ali teria

E em quase-solene meia vida decorrida
Entre espadas, parede, mar e quase-fantasia
Deixou escorrer uma quase-vontade que mais não cabia
Fora do eixo, sobre um ponto quase-fixo imaginário
Decide ser quase-altura de abraçar o seu calvário
E num quase-sonho embarcar legionário

Contempla então a quase-libertação
Entre o sólido chão e o fino ar, a encoberto
De uma quase-linha ao pescoço enrolada, não mais incerto
Destino escolhido, quase-perto por fim
Deu um salto de quase-fé, convicto de si
Num voo desenhado em final alegoria
Teve a desejada sorte, quase-sobrevivia

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Fonte


 Corre a água pela Fonte,
Barulhando perto ao longe,
Triste e pálido mato meio sem Graça.

Sequiosa, a boca, comanda-se emudecida
Pelo calor da fachada
Que esconde o estro ingénito
Que acende e apaga a luz do meu ser.

Temos todas as razões para viver,
Mas falta-nos sempre uma razão para reparar o mundo.
Porque o mundo é ingente e pequeno,
Vê-se sempre perto de longe.

Brotam-se ideias e pensamentos,
Mas é certo que nunca se exuma como deve ser.
(Estará o solo insalubre?)

A água, pura, esvai-se
Pelo desejo ávido
Que mescla cada pedaço de mim.

Já nem me acho,
Deslustradas, as fotos
Que me pediram.
(Pena, os traços do rosto que se espelham na água)

O gesto inócuo nunca me há-de dar a conhecer o incognoscível.

Fosse, talvez, o mundo feito de insipidez
E fossem os dias resumidos a flores, sol e Primavera.
Fosse eu a tua sede e água da Fonte a tua boca,
Porque assim, num gesto vão, estaríamos conchavados.

O (nosso) mundo não é a fachada que pintamos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Através de ti (Parte III de III)

Parte III – Leite com mel e hortelã

 



- Olá, posso oferecer-lhe uma pastilha? São de lima-limão, as minhas favoritas.

Num ligeiro sobressalto, Elianor vira-se para a sua esquerda e dá de caras com o jovem simpático que partilha consigo a paragem de autocarro juntamente com duas mulheres de meia-idade que tagarelavam incessantemente. Ele sorri e aponta-lhe a caixa de pastilhas enquanto acena gentilmente com a cabeça. Elianor tenta sorrir de volta mas não consegue. Não faz mal, os seus olhos sorriram por ela.

- Vá, não se assuste, é só uma pastilha para ajudar a passar o tempo de espera. Já agora, posso sentar-me ao seu lado?

- Sim, claro, é um espaço público… -

Chega-se para a ponta e olha para as senhoras que matraqueiam alegremente como se estivessem completamente sós. Seria de esperar que, dado o sobrepeso e as varizes, fossem elas as detentoras do direito ao assento, mas não, pareciam duas adolescentes histéricas à porta de um concerto, até soltavam risos e um ou outro gritinho.

- Sabe, vejo-a muitas vezes por aqui, mas ainda não tinha conseguido meter conversa consigo… parece-me tão reservada, distante. Aposto que nunca deu por mim!

E não, Elianor nunca tinha dado por ele. Estranho, um jovem muito bem parecido, vinte e poucos, alto, atlético, face limpa e perfumada, olhar penetrante e galanteador. Nunca o tinha visto mas ele dizia que a conhecia. Elianor vacilava entre o receio e alguma irritação, afinal de contas, sentia-se observada para além dos seus desejos. Bem, se calhar não estava a considerar todos os tipos de desejos.

- Olhe, fique sabendo que não sou de grandes conversas e não tenho a certeza de onde quer chegar por isso fiquemos pelo bom-dia-como-vai cordial e guarde as suas pastilhas.

-oh, lamento se a incomodei, não era minha intenção. As minhas sinceras desculpas e não me leve a mal, não me pode censurar por tentar meter conversa com uma jovem linda e encantadora.

- vá, deixe-se de coisas, também não é nenhum drama… afinal de contas você parece-me simpático, mas eu não gosto de lima-limão, percebe, não é o meu estilo.

- ah, entendo. Posso tentar novamente amanhã? O que prefere, caramelo? Mentol? Vê, afinal também sabe sorrir…!

E sorria, abanava a cabeça como quem tenta negar as evidências esmagadoras e inconvenientes.

O autocarro chegou e lá foram os dois. Possivelmente partilharam um banco, pastilhas e algo mais. É assim que nascem as coisas boas da vida, de forma espontânea e discreta, até se tornarem exuberantes e…

- Oh, Oh menina, não é assim que me lembro dessa história!!




Elianor, sentada à mesa, bebe o seu leite com mel e hortelã, mergulha um biscoito seco.

- Mas era assim que deveria ter sido… era assim que deveria ter sido…

- Chamas-me monstro Elianor, perverso e bruto. Sim, a mim não mentes, como poderias tu fazê-lo? Somos um, nasci contigo e de ti me alimento. E tu de mim, não é meu anjo? Então não nos queres lembrar como foi? Tu até tens jeito para contar histórias, estavas a ir tão bem. Vá, tenta lá outra vez. Estava um idiota a fazer-se a ti na paragem de autocarro, deste-lhe para trás e ele ficou todo contente, andaste nisto quê… seis, sete dias? Não contando com o fim de semana, é claro!

Elianor levanta-se, dirige-se até à janela virada para este e contempla a noite que reina sobre as almas até ao resgate da luz solar. Suspira e massaja o pescoço com a mão esquerda enquanto sobe a caneca até aos lábios para mais dois goles.

- E depois, como foi? Começaram a combinar encontros, primeiro, um café de misericórdia, certo? É Assim que funciona o jogo da sedução, um café, um jantar, um cinema e um dia, um convite. Não queres entrar para tomar um leite com mel e hortelã?

Elianor, vira-se, pousa a caneca na mesa e dirige-se ao espelho da casa de banho. Olha-se longamente e decide lavar o rosto. Vai até ao quarto e pega no seu pequeno frasco de perfume. Põe gentilmente uma gota atrás de cada orelha, como fazem as senhoras de bem.

- Ah,  esse teu perfume deixa-me louco. Já só restam algumas gotas, incrível como o tempo passa… parece que foi ontem que começámos este nosso ritual. O que eu sofri para te ensinar rapariga, o que tu choraste, gritaste, até tentaste fugir… de mim? Não minha querida, eu não me posso separar de ti, nem que muito quisesse, pois tu nunca me deixarás. Tu e eu, certo? Tu e eu…



O rapaz estava deitado na sua cama, adormecido, cansado de fazer amor com aquela bela, frágil e suave criatura.

Elianor fecha os olhos, inclina a cabeça para trás e estremece profundamente.

- Obrigado, minha querida, eu agora tomo conta do recado. Tu já estás satisfeita, agora é a minha vez. Através de ti me sacio, vivo e respiro. Obrigado, minha querida, por me teres trazido mais um presente.



Na manhã seguinte, Elianor apanha o autocarro. Hoje segue só.

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...