Todos
olhamos quando ela passa
Excitante,
provocante, diabolicamente devassa
Apertamos
as coxas para disfarçar a excitação
Mordemos
os lábios, suspiramos em vão
Mas
ela está longe de nós
Noutro
dia olhamos pela janela
Miramos
a doce e demente dança dela
Metemos
ao bolso a mão, para disfarçar
A
atenção inusitada que lhe estamos a dar
Enquanto
serpenteia longe de nós
Por
vezes ao passar numa qualquer estrada a vemos
E
logo abrandamos, espreitamos e dizemos
Que
é uma desgraça, vergonha, uma tristeza
E
engolimos em seco a admirar a beleza
Dela
que se enrola com um que não nós
À
noite na segurança da nossa cama
Dizemos
a mentira a quem mente que nos ama
Que
ela é a única, aquela, a verdadeira tal
Mas
longe o pensamento voa fatal
Para
aquela que se abre se deita longe de nós
E
quando dispara o corpo corrupto
Num
esgar ou lamento profundo e poluto
Morremos
um pouco no corpo do amante
Sentimo-nos
perto mas com a alma distante
Enleada
em quem está longe de nós
Mas
o dia chega e nunca se atrasa
Ela
vê-nos, sorri e nos deixa em brasa
Um
acenar dela e ditada é a sorte
Embalados
nos vamos nos braços da morte
Quando
finalmente o escolhido é um de nós
Um poema simples na forma mas que encerra em si várias ideias susceptíveis de outras tantas interpretações. Essa figura feminina é a mulher (a eterna agente de perdição) que tenta e conduz à morte? Ou será a inversa: a própria morte que veste roupas de mulher, que nos recolhe nos braços e guarda, sem sentença, as nossas histórias? Gosto da escrita que deixa espaços em branco para que seja eu a preenchê-los.
ResponderEliminar"Fonográficamente" te digo que este poema afasta a morte do olhar de quem lê. E a musica é aquele instante em que o sol atravessa a chuva e vem sentar-se naquele banco de jardim, onde a velhice nos espera.
ResponderEliminarGostei sim.
Anamar (pseudónimo)
Ela, sempre ela, o ser da perdição, a mulher que amamos, a mulher que nos faz transviar o olhar, a mulher que desejamos, a mulher que nos faz voar e que nos leva à loucura... tudo maravilhosamente descrito nesta NeoPornographia que nos transporta embalados numa outra dimensão...
ResponderEliminargostei como quem gosta de coisas muito boas:))
ResponderEliminarOlha, um que diabo!
ResponderEliminarLOL! Desculpa, um que diabo é um marco na carreira de qualquer escritor que se preze. :)
ResponderEliminar"Morremos um pouco no corpo da amante." (lindo...) Os franceses chamam-lhe a "pequena morte", não é? O fruto proibido como a perdição final, o desejo do que se não pode ter, o humano mais que humano. Afinal, a adrenalina de que precisamos para nos sentirmos vivos. Mas o que acaba por nos perder não é a femme fatalle" mas a nossa inevitável dependência do risco e danação.
Gostei muito. Não se arranja por aí mais um destes X-rated? ;)
este texto li 3 vezes e tirei interpretações diferentes...adorei! Primeiro vi só a mulher, depois vi muito mais!
ResponderEliminar"À noite na segurança da nossa cama
Dizemos a mentira a quem mente que nos ama
Que ela é a única, aquela, a verdadeira tal
Mas longe o pensamento voa fatal
Para aquela que se abre se deita longe de nós"