sábado, 10 de julho de 2010

Janela das três e onze



Aquilo que se sente quando… a olhar pela janela, sei que vai acontecer. Fixo as linhas brancas da passadeira e imagino palavras, palavras e palavras, que sabem porque saem, mas estão totalmente vazias de texto. Sabem que são palavras mas não sabem como conseguiram juntar as letras. Sabem que dia é hoje mas já se perderam no passado que futuramente vai trazer mais palavras que nem sabiam que existiam. Depois de atravessar a rua chego ao passeio e este é outra longa linha onde desfilam mais palavras, de mãos dadas, ou com o peso dos sacos das compras, ou ainda de mochila às costas. Mas as minhas preferidas são aquelas que vêm a mascar pastilha elástica e a fazerem balões de dióxido de carbono com letras misturadas. Quando esses balões rebentam, milhares de palavras são formadas com as letras que se soltam. Sustenho a respiração. Volto para trás. Entro em casa e regresso à janela. Imagino sons, sons e sons, que sabem porque saem, mas estão totalmente vazios de música e de… palavras. Neste momento prefiro ouvir o som do coração, porque sei que um dia, ele estará a tentar juntar letras para formar palavras que ainda não conheço e nem vou conhecer. Nesse mesmo dia, alguém no passeio irá estar a fumar um cigarro e a fazer argolas de fumo com letras penduradas à volta. Nesse dia, mas só nesse dia, saberei que afinal só depois do som é que vem a palavra, e que o melhor era ter ficado a escutar os meus pulmões a inspirar enquanto as letras ainda andavam à solta. Expiro o ar vazio. Aquilo que se sente quando… se volta para casa sem letras suficientes sequer para formar a palavra “janela”.

2 comentários:

  1. e o que se ve e sente dessas janelas...Gosto!! gosto muito gostei mesmo muito!! Inês!!:)

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  2. São fronteiras essas janelas, visões do futuro como o queremos, esboços do que seremos no dia em que sem sabermos fizermos parte da paisagem que hoje vemos.

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