quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Era uma vez duas pessoas que desejaram escrever em conjunto. Do desejo à concretização foi uma passada rápida e assim nasceu este


Texto a duas mãos

Ontem procurei-te desesperadamente. Apesar de saber da tua ausência, revelei-me impotente para a aceitar.
Bem lá no fundo acalentava a esperança de te encontrar deambulando pelos caminhos sinuosos da vida.
Desejava tanto depositar um beijo nos teus lábios, pegar na tua mão e caminhar ao teu lado. Queria sentir o perfume que emana de ti, esse perfume de bosque, essa mistura de fragrâncias que me deixa louco de uma loucura sadia.
O meu colo pedia que te sentasses. Queria estar perto das palavras que brotam de ti. Senti-las. Poder mesmo tocar o seu som...
Tocar o som das palavras...
Mas nem só o som, queria beber cada palavra, cada sílaba... nada se poderia perder.
Quis encher o teu regaço de flores. Não rosas porque aqui, ao contrário de outros tempos, não há milagres, mas tão só tu própria.
Pensei em flores campestres...
Queria desesperadamente correr, saltar, rebolar, gritar nesses campos de papoilas e malmequeres bravios, queria gritar a todos que eras tu, eu...

A melodia com que me envolves tem a capacidade de me fazer esquecer de mim. Eu que me recordo em ramos de flores silvestres com que me decoravas os cabelos, quando ainda não éramos nós e não éramos mais do que uma simples probabilidade metafísica.
Atravesso o rio da aldeia, pés descalços, saia apanhada nas coxas brancas do sol que já não sei. Cabelo solto como o vento que me leva até às memórias de dias luminosos de aromas por inventar.
O rio passa numa quietude de tardes mornas. Acompanho o seu curso, o pensamento em ti, as mãos cheias da água que explode em pequenos recantos, as silvas que os pés suportam sem dor. Os pés e as pernas, ágeis ainda. Sorrio ao som do silêncio que se faz, quando te sonho.
Então, num repente que me caracteriza, inicio uma corrida sem destino que me levará ao teu abraço.
Que só saberei quando chegar.






4 comentários:

  1. Gosto muito de textos a duas mãos. E quando são duas mãos com sede uma da outra, mais bonito ainda. Gostei dos cheiros e cores deste amor bucólico mas ansioso, um oasis de primavera no Outono. :)

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  2. Tal como disse Bicho d' Ouvido, um amor guardado na pele, nos olhos, nos ouvidos....um texto escrito pela memória dos sentidos.

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  3. silvestre, puro e pleno de aromas
    lindíssimo

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  4. encantada com o cheiro a flores silvestres deste amor

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