domingo, 5 de junho de 2011

Arquétipo





No princípio Deus criou os céus e as trevas e as águas e o fogo e as plantas e os bichos. E viu Deus que era bom. E foi a manhã de um dia eterno. E disse Deus: façamos o homem e que domine sobre tudo o que se mova sobre o universo. E lavou o mundo, expurgando-o para receber o ser sublime.

E porque Deus, sendo fêmea, só sabe gerar dentro de si, olhou o seu corpo gasto pelas gestações. E porque Deus, sendo imperfeito, não conhece a substância do divino, olhou as deformidades da matéria. E porque Deus, sendo finito, recebe a morte na taça da criação, olhou os elementos e rasgou uma vez mais o seu manto.

E disse: bebamos as águas, que são fluido da vida, para que o eleito seja transparente e tenha o ímpeto das correntes. E, depois de beber, foi Deus às florestas e cheirou a terra.

Mas o primeiro homem era informe e sujo. E ao tocar-lhe Deus sentiu os vértices do caos. E viu Deus que era mau. Tirou-lhe a vida e guardou-a entre os ramos dos seus cabelos. Beijou-o, deitou-o no regaço, enterrou-o e carpiu.

E disse: beijemos as trevas, de que se alimenta a luz, para que o eleito domine o ritmo das forças. E depois do beijo, foi Deus ao mar e provou o sal.

Mas o segundo homem era triste e inerte. E ao tocar-lhe Deus sentiu as pedras do sacrifício. E viu Deus que era mau. Tirou-lhe a vida e guardou-a dentro das lágrimas dos seus olhos. Acaricou-o, queimou-o, teceu um véu com as cinzas e chorou.

E disse: escutemos o fogo, que tem em si o fim e o princípio, para que o eleito conheça o silêncio e a purificação. E, depois de escutar, foi Deus às cavernas negras e contemplou os fios de luz.

Mas o terceiro homem era irado e vingativo. E ao tocar-lhe Deus sentiu um êxtase de lâminas. E viu Deus que era mau. Tirou-lhe a vida e esfregou-a nos lanhos da sua pele. Lambeu-o, afogou-o, banhou-se e sangrou.

E disse: comamos os bichos e as ervas, que são estéreis uns sem os outros, para para que o eleito saiba procurar além de si. E, depois de comer, foi Deus aos desertos ardentes e caminhou.

Mas o quarto homem era lúbrico e rude. E ao tocar-lhe Deus sentiu o acre da escuridão. E viu Deus que era mau. Tirou-lhe a vida e guardou-a no pó dos seus ossos. Chegou-o junto ao seu seio e alimentou-o com o branco leite negro veneno, esperou que secasse, varreu o mundo com ventos e gritou de dor.

Mas a agonia cedeu à lucidez. E disse: toquemos o céu que é o inverso da terra criada.

E subiu Deus às montanhas mas já não conseguiu levantar o braço exangue. Sem nada nas mãos, moldou o eleito com o vazio e com a sua própria alma. E uma criatura de barro surgiu-lhe no ventre, quase indistinta da sua carne.

Empurrado pelas vozes dos irmãos mortos guardados no corpo da mãe, o quinto homem rasgou-a antes de tempo. E para escapar à cegueira que já o agarrava e esmagava, deixou-se cair. E cresceram-lhe asas negras. E foi a tarde de um dia eterno.

E Deus desceu da montanha. E perseguiu o filho maldito. E viu que encontrara a música do tempo. E que procurara a poesia do horizonte. E que inventara palavras para todas as obras. E que escondera as imperfeições da criação com as penas das suas asas.

E ao tocar-lhe Deus sentiu o fel da loucura e do amor. E viu que era mau. Mas retirou a sua própria vida e guardou-a no coração do caído.

E na derradeira hora, Deus buscou a sua alma mais uma vez e criou outro ser, a mulher. E fê-la à sua imagem. Cada traço, cada veia, cada entrega, cada dor. E disse: uni-vos, frutificai-vos e multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a. E descansou nos braços dos seus filhos. E foi a noite de um dia eterno.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pensamento fugaz

Existe um momento em que a mente do espectador e a do artista se tocam.



Nesse momento, desvela-se a suposta separação (afinal ilusória)
e, numa continuidade de consciência(s), embalados na íntima magia
dos sons, das cores, das formas, das ideias ou das palavras,
partilham sentimentos, imagens, ideais e sonhos.
Ambos choram e riem, recebem e dão.
O coração acompanha o ritmo da vida, esfuziante.
E dá-se a Comunicação, que não tem espaço nem tempo.
Como se fossem Um, unidos pela Obra, agora comum!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Para a criança mais linda do mundo…



Para não fugir ao inicio de qualquer historia de encantar, era uma vez uma menina, que um dia recebeu uma noticia que a deixou muito feliz, ia ter uma mano!

Mas o mano nuca mais nascia, o tempo demorava a passar, como seria o mano, como se chama o mano…a ansiedade crescia de dia para dia.
Dizem os pais, pois com 3 anos ela não se lembra, que foi ela quem escolheu o nome.
E, num belo dia de Agosto, o Pedro Miguel nasceu, o menino dos papás e a alegria da mana.

Mas um dia (e deste dia, ela tem vagas recordações) depois de irem com o Pedro a uma consulta, os pais desataram a chorar, e a tristeza invadiu aquela casa. E ela não percebeu, demorou algum tempo até que a tristeza desse lugar à alegria de outros tempos… mas a alegria voltou a inundar aquela casa.
Ela continuava sem perceber o que se passava, mas tinha um mano que adorava, uns pais que adorava, logo estava feliz e não queria saber de mais nada, coisa de adultos pensou!

O tempo foi passando, e os manos vão crescendo sempre juntos. E ela continuava a não perceber porque é que olhavam para o mano de maneira diferente, porque falavam baixinho quando ela passeava com ele, porque é que algumas pessoas viravam a cara. Ela não percebia mesmo, mas isso deixava-a irritada, completamente irritada.

Um dia na escola, os meninos gozaram com ela, dizendo que o mano era deficiente, mongolóide, riram, fizeram gestos, imitaram vozes estranhas e mais uma vez não percebeu…mas ficou tão chateada que partiu para a violência, violência de quem protege aquele que ama, mesmo sem perceber o que se esta a passar.
Aquilo não lhe saiu da cabeça o dia todo, e quando chegou a casa, não resistiu e perguntou à mãe “Mãe o mano é mongolóide?” (sem fazer a mais pequena ideia do que isso era) e a mãe desata a chorar, o rosto lavado em lágrimas (aquela imagem ficou-lhe gravada na memória) apenas soluçava, as palavras não saiam.
Sem respostas exigiu à mãe uma explicação.
A mãe suspirou, respirou fundo e explicou à menina que o mano era um menino diferente dos outros pois sofria de uma doença chamada trissomia 21.
A menina, na sua inocência, disse “se o Pedro está doente vamos ao médico e ele fica bom”a mãe, já em desespero, explica que não era assim tão simples, a doença não tinha cura.

Mais uma vez ela não percebeu, nem tentou perceber, não sentiu nada…era o mano dela e ela gostava dele, e reclamou com a mãe dizendo “o Pedro não tem doença nenhuma!”.

Os anos foram passando, e os manos crescendo juntos, inseparáveis.

E o tempo fez com que essa menina percebesse o que era a trissomia 21.

Passou a proteger e a defender ainda mais o mano, pois o mano já não era só mano era como um filho. Um dia num restaurante um casal olhava com repulsa para o Pedro, e ela levantou-se, dirigiu-se ao casal e fez uma cena. Ela não admitia, nem admite, que tratassem e olhassem para o mano de forma diferente, era o mano dela!

Os manos continuam a crescer juntos, até ao dia em que a mana vai para a faculdade.

Durante 15 anos o Pedro nunca tinha estado longe da mana, e ficou magoado com ela. A Covilhã ficava tão longe. Sofreram horrores de saudades, saudades essas matadas por telefone, e assim continuaram, juntos, sempre juntos!
E eis que a mana acaba o curso e começa a trabalhar, mas não havia fim de semana que não o fosse visitar. Continuavam inseparáveis!

Mas o dia fatídico estava para chegar e a irmã nunca pensou que fosse ela que o fosse despoletar.

O Pedro nunca se apercebeu que era diferente, nunca (algo pelo qual os pais, a mana e os amigos sempre lutaram).

A mana compra o seu primeiro carro e quando chega a casa, o Pedro olha para ela, olha para o carro, a cara modificou-se e ela percebeu que nesse segundo o mundinho dele se tinha desmoronado.
Nunca ninguém o viu chorar (a não ser em pequenino) mas os olhos brilhavam cheios de água e com uma voz de tristeza avassaladora pergunta “ Porque é que tu tens um carro e eu não?”.
Ela morreu naquele instante e não faz a mais pequena ideia de quanto tempo levou a reagir, se minutos, segundos ou fracções de segundos. Virou a cara e as lágrimas corriam pela face, pelo coração, pela alma… ela tinha destruído o mundo encantado do Pedro. Ela estava a fazer o mano sofrer, ela, logo ela… não o mano não podia estar a sofrer!

Mas o amor tem coisas engraçadas, e eis que ela teve uma ideia (ele adora formula 1, lembrou-se ela), em milésimos de segundos, limpou as lágrimas e disse-lhe “Pedro este carro é teu, eu apenas sou o piloto e tu o co-piloto, pode ser?”. Abre-se um sorriso, a tristeza já não mora naquela cara, agarra-se à mana e diz-lhe “vamos dar uma volta no meu carro novo?”.

E naquelas palavras ela percebeu que o Pedro tinha voltado ao seu mundo encantado!

E mais anos passaram e o Pedro sempre uma criança feliz, até ao dia em que novamente è a mana (que tanta luta pela sua protecção) que faz novamente o seu mundo encantado desmoronar-se.

A primeira vez que o Pedro viu a mana numa cadeira de rodas, os olhos dele brilharam, mas de um sentimento estranho, raiva talvez. E começaram as perguntas “porque estas sentada nessa cadeira, sai dai, anda brincar comigo, não gosto de ti sentada ai, levanta-te” mas a mana não se podia levantar. Ele estava tão chateado, que ninguém soube lidar com aquele sentimento. No meio do silêncio ele grita para a irmã “ficas feia nessa cadeira, não gosto de ti”.
Nesse momento fez-se luz para a irmã, ela tinha de lutar, tinha obrigação de lutar, por ela e pelo irmão e prometeu-lhe que em breve sairia da cadeira de rodas, ao que ele sorriu e lhe deu um beijo (ela nunca irá esquecer o sabor desse beijo).

A cadeira de rodas desapareceu dando lugar a umas muletas azuis, o que novamente provocou uma reacção no Pedro. “Não gosto dessas muletas, são azuis e eu sou do Benfica. Ficas feia de muletas e assim não podes dançar comigo.” E mais uma vez a irmã promete que vai deixar de andar de muletas.

O dia em que ele viu a irmã a andar sem as muletas, agarrou-se a ela, encheu-a de beijos e disse “eu gosto muito da minha mana”. (ela ainda ouve essas palavras, quando fecha os olhos..)

E foi nesse dia, que a mana percebeu, não era ela que protegia o Pedro, era o Pedro que a protegia e lhe dava força, força que mais ninguém conseguia dar, não daquela forma.

Os manos continuam inseparáveis e neste momento o Pedro é um menino/homem de 31 anos, feliz, feliz no seu mundo de encantar, feliz no seu mundo perfeito.

E a mana olha para ele e pensa “Pedro tu é que tens razão…”

quarta-feira, 25 de maio de 2011




Dizem que a idade nos traz sabedoria!
Quem inventou tamanho disparate?
Nada disso...
Traz desejo, maluqueira, vontade, a inconsequência mantém-se, o impulso existe, qual teenager de 16 anos.
Quem disse que a idade traz sabedoria? Mentira!
Ou então eu fujo à regra...serei eu diferente?
Passei a ter desejo de viver tudo intensamente, mandar-me sem pensar se vou cair ou me magoar, sem pensar nas consequências, sem querer saber das aparências…farta, farta de me conter, farta de pensar e depois agir, farta de ser a menina perfeita!
Quero abraçar a vida, quero abraçar o abismo, quero aprender, quero perceber…por agora ter o que não tinha.
Ensinaram-me que estamos cá, nesta vida, para aprendermos e nos aperfeiçoarmos como pessoas.
Aprendi que tenho uma coisa chamada alma, percebi que é uma alma com saudade, com muitas cicatrizes, mas que é uma alma bonita, chamaram-lhe alma de fadista.
E vi a luz, consegui!!!!! A luz que me trouxe paz mas também a vontade de fazer tudo!
Percebi da pior maneira possível, que as melhores coisas da vida, são as mais simples, e são mesmo, parece frase feita, mas nada é tão verdadeiro.
Viver, sentir e amar incondicionalmente, não mentir a mim mesma, aceitar-me como sou, enfim, fazer as pazes comigo.
Percebo agora que tudo o que defendia era demasiado fútil, não vou mais fugir e a viagem começou, a viagem em busca da verdadeira Sandra.
E nesta viagem, juntei na mochila, o desejo, a vontade, a inconsequência, o impulso, adrenalina…um cocktail de emoções explosivo.
E siga a viagem…que eu quero viver!
Quem disse que a idade traz sabedoria?
Mentira!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Menina da escrita





Disse o coração à Senhora desperta...
"Querida, por que reclamas tanto?
Qual é o motivo de tanta gritaria?
Acaso achas que a menina da escrita do Universo é surda?
Pára os lamentos e vem mergulhar nas ternas águas das letras do amor.
Vem banhar-te nas águas da compaixão das palavras escritas que tudo curam.
Ela envolver te a num abraço largo de palavras sentidas.
Estará contigo na aventura de servirem na luz as personagens criadas dos seus contos e historias.
Viajaram juntas na letra de uma canção de amor.
A menina da escrita do Universo perguntou por ti ainda há pouco.
Não queres vir ter com ela?
Acalma teus pensamentos agitados.
Nada é teu, ou dela.
Que tal juntares te a ela nessas praias de escrita divina?
Não queres assistir ao despontar do sol das palavras escritas daquela que nos leva aos horizontes de nossas aspirações espirituais?
A vida não é um ringue! Não estás aqui para vencer ou perder.
Estás aqui na vida só para aprender...
Pára de guerrear pelas ilusões e vai com ela desperta na sua escrita. É uma oportunidade maravilhosa!

Desperta e relembra aos homens que sem amor ninguém segue...
Leve-os a nadar contigo pelas águas da compaixão e mostra-lhes a luz da sabedoria, que aprendeste com a menina da escrita do Universo.
Vá, Senhora desperta.
Sim, sem amor, ninguém segue...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Incubadora



Maria tem o olhar a atravessar a fechadura, porque foi à fechadura que reparou pela primeira vez que o nada se movia lá fora. Franziu a orelha. Como um ponto de carvão numa folha parada, o tempo não se movia, nem se chovia, nem se fazia em vento de cada vez que ela olhava para fora da casa sem porta.

Uma casa triangular, mesmo sem vestígios de porta mas com um minúsculo buraco da fechadura na parede que aponta a sul. Foi nessa mesma parede que Maria nasceu. Com os pés encostados à parede e o tronco no chão, ao fim da décima nona força saiu de uma mulher, Maria. Não foi fácil. Com as pernas de recém-menina a baloiçar e a cortar a meta em primeiro lugar, a cabeça explodiu em raiva por não ter sido ela a mais velha do corpo. Entre lágrimas e sorrisos da mãe anjo, Maria viu-a ir para o vértice norte da casa, lugar céu, número estrela para nunca mais de lá sair… recém-orfã, antes de conseguir ser menina.
Parada no seu corpo, hoje passados muitos anos, olhou pela fechadura e reparou pela primeira vez que o nada se movia lá fora.

Na parede noroeste, através da rachadura, ela esmaga os olhos e repara que lá fora, o tudo não se mexe. Franziu as pestanas. Ana nasceu aqui. Com as costas e a parede coladas e os pés a rachar o chão, ao fim da vigésima terceira força saiu de uma mãe, Ana. Pela ordem natural, a cabeça ganhou o orgulho e quando se preparava para gracejar com Maria reparou que ao sair as pernas tinham ficado lá dentro, e o lá dentro é quando a gestação come a carne e o osso e da gula resultam cotos redondinhos e brilhantes. Entre lágrimas e sorrisos de mãe-demónio, Ana viu-a ir para o vértice este da casa, lugar roda, número enjeitados para nunca mais de lá sair… recém-enojada antes de conseguir ser filha.
Agitada no seu corpo, hoje passados muitos anos, olhou pela rachadura e reparou pela primeira vez que o tudo não se mexe lá fora.

Pendurada na parede nordeste que se arrasta todos os dias num sul e num noroeste, está a fotografia emoldurada de Mariana e, através da mesma, ela vê uma paisagem morta no tudo do nada…Assim, sem razão ou emoção, franziu a ponta do nariz e não se lembra de como nasceu. Na casa triângulo sabe que o único vértice livre, o oeste, está vazio, sem mãe, sem útero, placenta, cordão umbilical, parto, sangue… Apática no seu corpo, olha para as outras duas paredes e ri de tristeza. Talvez tenha nascido da geração espontânea entre o pó atrás da moldura e a cal da parede, num namoro que acabou em veias e pele agarradas a estacas. Olhou para a paisagem pela última vez com as órbitas oculares e reparou que em alguns dias a cabeça chora a idade. Nos outros dias, arrasta-se pelo chão com as mãos a palpar caminho para o tronco que nos sonhos vê umas pernas a tracejado, como se fosse possível fazê-las existir com o carvão do lápis.

Lá fora o nada e o tudo sonham com os habitantes da casa em bico. Esperam parados, na ansiedade de sentir saudades de quem não conhecem.

sexta-feira, 20 de maio de 2011



"Nunca estive naquele páteo. Só sei que olhando a bola a saltitar de lá para acolá, resvalando nas paredes porosas; escutando os gritinhos mecanicos e treinados das raparigas e relembrando os meus próprios pés diagonais e disformes, o sistema solar parece acabar na curva ao fundo da rua. Parece que consigo ver-me encolhido contra aquela parede ao fundo, a tentar manter-me como uma mínima camada concava da mesma. E a ser atingido em cheio pelos estilhaços de uma explosão de leite com chocolate, logo a seguir. Os olhos no chão asfaltado e o caminho triste até ao escuro e longo tunel que ladeia o ginásio da escola, mordendo o lábio quase carnívoramente.

Que longo, longo túnel, em que vejo a luz ao fundo, mas que não mais parece acabar...

Mas não, nunca estive ali."

sobre mim e para mim




Porque gosto de sorrir e de fazer sorrir, porque gosto de ser assim, porque sou mesmo assim...eu sou eu.
Menina num corpo de mulher, forte como o titanio que tenho dentro de mim, frágil como a porcelana que que tb faz parte de mim...
Menina Mulher com cicatrizes visíveis outras nem por isso, mas com vontade de ser apenas e só, feliz!
As cicatrizes ficam, apesar dos cremes utilizados, e lembram-me aquilo que já fui, aquilo que sou e aquilo que quero ser...mas sempre fiel a mim e aos meus princípios, sempre!
Eu sou assim...
Há quem diga que sou lamechas, abencoadas lágrimas pois não quero voltar à frieza de outros tempos.
Passei a chorar, por tristeza ou por alegria, mas as lágrimas já saiem e acreditem, faz tão bem lavar a alma.
Sim choro a ver o mar, choro quando alcanço mais um objectivo, chorei porque consegui dançar (as saudades que tinha de dançar) e choro sempre que algo "me toca" no coração...mas volto a repetir, abençoadas lágrimas.
Lágrimas quentes, sentidas e com um sabor agridoce, mas que me dizem que estou viva!!!!
Eu sou assim, demasiado doce talvez...mas se me sinto bem assim, assim continuarei!
É bom estar vivo!!!!!!!!!!!!!!!!
...apesar de tudo, é bom ser eu!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Poder de Acreditar - Acto II



Acredito em mim
(mentiras sem fim)

Uma bela manhã de Sol banha-me a face
(odeio a luz, doem-me os olhos)

os pássaros chilreiam ao chapinhar no fontanário
(criaturas malditas, racham-me os tímpanos com tanto alarido)


as flores desabrocham e presenteiam toda a gente com mil aromas e um festival de cor
(venha a seca, a geada, o ardiloso inverno, e leve estes abortos da natureza para longe de mim)


Sinto a relva com os meus pés descalços
(não sou gente, não sou ninguém, não sou nada)


e alegro-me com o toque molhado dos restos do orvalho
(não sou gente, não sou ninguém, não sou nada)


e deixo que a brisa me acaricie a face
(...nada...)


vejo as crianças que jogam à apanhada
(rio-me dos seus corpos frágeis, ...tão frágeis...)

os cães que deliciam os seus donos com joviais brincadeiras e corridinhas
(obedeceaodono obedeceaodono obedeceaodono obedeceaodono obedeceaodono obedeceaodono obedeceaodono obedec...)

os jovens casais, trocam beijos e carícias, envergonhados ou sorrindo maliciosamente
(fornicai como porcos que sois, procriai e enchei o palco com as vossas larvas)

vejo meninas que volteiam nas suas bicicletas, cheias de fitas que ondulam ao vento
(todas as mulheres são patéticas, ridículas, execráveis e umas grandes cabras)

enquanto os garotos se entretem a jogar à bola
(nunca me convidaram, nunca me deixaram jogar, nunca me deixaram sequer aproximar...)


conheci outros como eles, à tantos anos atrás, lá no antigo bairro
(um dia verei também os vossos cadáveres)

como eles, miudos e miudas, andavamos todos no primeiro ano de escola
(anormal, atrasado, monga, monstro, anormal, aborto, anormal, ...)

enquanto durante a hora de lição a professora nos ensinava a dança das palavras e o ritmo dos números
(D. Isaura, tenho medo do anormal! D. Isaura, ele cheira mal e é feio! D. Isaura, não quero ficar ao lado do monga...)

ficava para a mágica altura do recreio a troca de brinquedos, toques e afectos, coisas simples entre as crianças
(não mexas ai não fales comigo não me toques sai daqui isso não é teu apanhas nos cornos se não desapareces!!!)


agora me lembro, das horas felizes
(não sou gente, não sou ninguém, não sou nada)

agora me lembro de como era o grupo
(não sou gente, não sou ninguém, não sou nada)


e de tudo quanto vivi com eles
(...nada...)

e deixo as memórias vogarem como barcos ao vento
(leva a mão ao bolso, obedeceaodono)

enquanto o conforto das recordações me afaga a alma
(já, faz o que te digo anormal!!)

entrelaço a melancolia de viver com a esperança de um novo dia
(já a sentes, na tua mão?)

e deixo que o beijo quente do Sol me conforte
(ouviste o click? Está engatilhada...)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desperta




Desperta não chegam às farpas da crítica e nem as seduções dos elogios. O dragão do ego não mora ali.
A consciência desperta sabe o que faz, pois caminha sob o comando do discernimento.
É serena é doce, e sua acção é constante.
Trabalha por amor, age sem temor, luta por mundos melhores e é dedicada ao serviço que lhe foi confiado.
É compaixão sem pieguices. É puro sentimento sem drama.

Suas acções não são afectadas pelas marés emocionais e nem pelas circunstâncias.
Sua luz não agride as trevas, apenas esclarece e transforma.
Comunga com todos os seres e convive bem com os homens da Terra.
Não há divisão em suas atitudes. É firme, mas, ao mesmo tempo, é generosa e suave.
Sua ternura encanta e inspira... E ela caminha com segurança.

A consciência desperta já passou por várias etapas por isso, sabe atravessar as camadas densas...
Sabe o rumo do seu serviço, e não vacila. Ensina, mas não cobra crescimento de ninguém! Sabe que o tempo fará tudo acontecer.
Exorta os homens a seguirem as trilhas da Luz, mas não força ninguém a segui-la.
É pura ética cósmica, pois não condena ser algum.

Os seus olhos brilham tanto... E suas mãos emanam calor de amor suave.
Ela é Luz que inspira as nobres virtudes!
Amar é intensificar a vida!

domingo, 1 de maio de 2011

The Scent of Love











Um piano.
O sol tenta aquecer
a minha solidão,
uma musica
diferente
toca-me.

Algo estala dentro de mim,
uma
suavidade terna
solta-se do céu
e
espalha-se pela manhã...

Água nos espelhos
lágrimas escondidas
o nó
na voz,
a garganta que dói...

A musica continua
doce adormecer de sorrisos
lilases orvalhados
um gostar submerso,
confusão,
esquecer.

O dia parece luminoso.

C



a




i





a transparência
do céu,





a




z




u




l





até doer.

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...