segunda-feira, 12 de julho de 2010

na noite



A criança já dormia a sono solto mas o velho continuava junto à cabeceira dela.
A história não tinha acabado; raramente chegava ao fim porque ela adormecia durante.
Já não se lembrava de si na sua meninice, não se recordava se o mais importante eram as histórias que ouvia ou se a voz e presença de quem lhas contava. O dar a mão era fundamental. Sim, disso lembrava-se.
Também ela entrelaçava os dedos nos seus e iam perdendo força à medida que o sono vinha. Até que a mão ficava ali, perdida na sua.
O silêncio do quarto apenas era interrompido pela respiração suave mas profunda dela. Nesse sono, nessa respiração e no abandono à sua presença a criança respondia àquilo que o velho nunca lhe tinha dito porque não era necessário: dorme. Estarei cá e vigiar-te-ei o sono.

Quantas vezes as mais belas coisas são aquelas que não precisam ser ditas?

2 comentários:

  1. Doze linhas... (que podiam ser "Doze anos"). :) Um texto que me deixou cheia de saudades. São coisas que não precisam ser ditas e é muito bom imaginar esta "criança" e este "velho" naquele preciso momento que descreves e muito bem.

    ResponderEliminar
  2. Senti saudades da minha avo...ela lia me historia para dormir, mas como saudades são sinais do coração gostei...obrigado footprints!

    ResponderEliminar

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...