terça-feira, 3 de janeiro de 2012

destapou-se de lençóis baratos





Vestia assim, uma blusa larga de uma cor escura, dava para dormir. 
Tinha-a comprado por aí num sítio qualquer, numa qualquer loja barata. Quando a comprou pensou vesti-la nos melhores momentos, hoje só lhe servia para dormir …
enrolava-se o tecido mole, na flanela dos lençóis baratos, comprados num saldo qualquer. 
Pelo menos, todo o espaço que lhe era oferecido numa blusa barata, tapava-lhe tudo o que julgava que tinha a mais.

Costumava ser bonita, costuma achar-se bonita, até há bem pouco tempo diziam-lhe que era bonita, pensou até que poderia ficar mais bonita com a blusa larga, sem cor que a definisse 
Pensou até que a sua cama gostasse daquela enorme blusa…mas não gostava, ou nem dava por ela, ou enrolava-a nos seus lençóis residentes…

Hoje vestiu aquela blusa escura, sem cor definida, vestiu-a e tentou aconchegar-se a ela mesma, a blusa, macia que era, não tinha sido feita para dormir.
Talvez por isso lhe tivesse tirado o sono.

Antigamente dormia em silêncio, hoje habituava-se a ruídos…de sirenes, de vozes, de ruídos abafados, de silêncios acabados, e a blusa larga, pardacenta e enrodilhada …que não a deixava dormir.

Sem adormecer, perguntava-se o que a faria acordar, olhava a blusa escura, metia as mãos nos bolsos largos… talvez fossem os bolsos! Ninguém dorme com blusas largas com bolsos despropositados
É impossível adormecer assim, as blusas com bolsos grandes foram feitas para guardar qualquer coisa, e nunca para adormecer! 
As blusas largas, de cor pardacentas, não guardavam os sonhos nos bolsos .

Despiu a blusa, voltou para a cama e destapou-se de lençóis baratos , adormeceu… sentindo a vigília escondida 


Teresa Maria Queiroz

1 comentário:

  1. Um texto com muito para ler atrás das palavras. Muito interessante.

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