quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Tormento de Deus (Parte II)

Estaremos a viver os dias do fim?



Em cada rosto o desespero, a soberba, um esgar de crueldade
Em cada olhar o medo, a angústia, o gasto dos anos de labor
Nas mãos de quem nos guia a aspereza da pura iniquidade
Só no coração das mães de todos resta um pouco de amor

Algures no caminho, perdemos a direcção
Pai nosso onde estais, que é feito de vosso reino
Pai nosso, porque dormis e abandonas a criação
Perdidos no vale da Morte entoamos o nosso hino

Selo após selo, abafada mais uma prece
Sinal após sinal, renegamos o paraíso
O cálice está perdido num mundo que anoitece
Entra gritos e penumbra, apaga-se o aviso

É este o nosso destino, a cegueira
Tudo o que desejámos, sobreviver
Da morte que se oculta por trás da bandeira
De nações insanas, ébrias de poder

Mãe, porque choras, de saudade, de dor?
Mãe, rogai por nós que estamos tão sós
Mãe, alumia a nossa noite, Mãe, por favor
Mãe, não nos abandones, fica perto de nós
Mãe, protege-nos da chegada da nossa hora
Mãe, salva-nos deste horror
Mãe, nunca te vás embora
Mãe, dá-nos o teu amor

Algures, na névoa do tempo
Entre passos perdidos, palavras trocadas
Algures terá existido um momento
Onde nossas vidas foram atraiçoadas

Se ao menos pudéssemos desfazer este nó
Que nos prende ao inferno de nossa demência
Regressar ao passado envolto em pó
E em acto de contrição implorar por clemência

O que falhou no grande plano, qual a raiz da corrupção?
Qual a origem da geração de tanto mal que nos violenta?
Onde terá o profeta obnubilado e perdido a sua visão?
Que pecado foi este que Deus tanto atormenta?

A Terra está a saque, a vida está por um fio
Anjos caem mortos entre rosas e jasmim
A sociedade colapsa, o céu está vazio
Estaremos a viver os dias do fim?

Pai nosso, porque tanto nos desprezas
Que crime vil foi este e por quem cometido
Estamos perdidos, sem rumo entre trevas
Sem esperança aguardamos o regresso do Prometido

Com o sinal da cruz recordamos o Teu Filho
Com o sinal da cruz imploramos perdão
Pai nosso porque vives em tanto tormento?
Porque nos negas Pai a salvação?

(continua...)

4 comentários:

  1. E que continue rápido porque estou a seguir este texto com enorme expectativa!

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  2. e o mestre dizia: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará",ansiosa pela continuação...:)

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  3. Não sei explicar a minha esperança. Talvez seja, no caos, o instinto de sobrevivência. Tenho e não tenho.
    Gostei muito, muito, do que escreveste.

    Fernanda Guadalupe

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  4. Muito bem escrito mas estás a guiar-nos deliberadamente na direcção errada, não estás? Come on... Where's the twist...?

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