No dia em que dancei, naquele em que me valsaste (e sim, começa-se sempre pelos pés e pelas mãos) chegaste bem vestida, com uns saltos altos que tiquetavam todos os azulejos do chão do corredor. Visita para mim, pensei assim que te vi à porta do quarto. Já do lado de dentro fechaste a porta à chave e de forma quase ilusionista engoliste-a. Elegantemente olhaste-me e antes de perguntares como me sentia hoje puxaste os lençóis para trás e deixaste à vista o que mais se destacava em mim, ossos. Segredaste-me ao ouvido "tens o corpo dos meus preferidos. Quero-te!"
Enquanto respirava oxigénio misturado com as secreções dos meus pulmões encharcados vi-te a retocar a maquilhagem. Digo-te, não é por isso que ficarás mais bela mas ao menos sempre fica um aroma a pó de arroz no ar. "Agora tu" voltaste a soprar para dentro do meu ouvido. Nunca na vida me deixei ser pintado, ó desgraçada! Inependentemente disso, só sei que o pincel que usavas era suave mas deixava uma sensação de substância pegajosa na cara, o batom parecia areia a deslizar nos meus lábios e o rímel pesava toneladas nas pestanas. Tentei manter os olhos abertos dentro das covas. Por essa altura, respirar parecia um gesto suavizado e sabia bem... sabia tão bem não sentir as costelas contra o colchão de pressão alterna. Encostaste a cabeça ao meu peito e como se o teu pensamento tivesse deslizado para dentro do meu coração ele bombeou "sabes dançar?" Digamos que a resposta nunca poderia ser negativa pois os teus braços já estavam à minha volta.
"Já te deixei com aquela cor, nem cinzenta, nem branca, nem amarela, simplesmente aquela cor" e sorriste. Pela primeira vez, desde há muitos anos, os meus olhos ganharam brilho, tanto que tiveste de fechar as tuas pálpebras antes de encostares os teus lábios aos meus.
Enquanto respirava oxigénio misturado com as secreções dos meus pulmões encharcados vi-te a retocar a maquilhagem. Digo-te, não é por isso que ficarás mais bela mas ao menos sempre fica um aroma a pó de arroz no ar. "Agora tu" voltaste a soprar para dentro do meu ouvido. Nunca na vida me deixei ser pintado, ó desgraçada! Inependentemente disso, só sei que o pincel que usavas era suave mas deixava uma sensação de substância pegajosa na cara, o batom parecia areia a deslizar nos meus lábios e o rímel pesava toneladas nas pestanas. Tentei manter os olhos abertos dentro das covas. Por essa altura, respirar parecia um gesto suavizado e sabia bem... sabia tão bem não sentir as costelas contra o colchão de pressão alterna. Encostaste a cabeça ao meu peito e como se o teu pensamento tivesse deslizado para dentro do meu coração ele bombeou "sabes dançar?" Digamos que a resposta nunca poderia ser negativa pois os teus braços já estavam à minha volta.
"Já te deixei com aquela cor, nem cinzenta, nem branca, nem amarela, simplesmente aquela cor" e sorriste. Pela primeira vez, desde há muitos anos, os meus olhos ganharam brilho, tanto que tiveste de fechar as tuas pálpebras antes de encostares os teus lábios aos meus.
Sempre disse que havia de morrer sozinho, sem ninguém a segredar em alto "coitadinho, é um penar".
Pois bem, naquele dia, nem a morte me viu a morrer.
Pois bem, naquele dia, nem a morte me viu a morrer.
Se ninguém te publicar, isso sim, é uma pena
ResponderEliminarde resto, as usual (thank J. Christ)
Um II menos menos puro, menos dentro dos teus códigos habituais de escrita. Ainda bem. Tens pernas para percorrer (a dançar) todos os caminhos que queiras. Muito bom.
ResponderEliminarsim, fugiste um pouco à área que mais dás a conhecer. Fiquei mais deliciado do que surpreendido.
ResponderEliminarSim, a maturidade da escrita está a evidenciar-se. Tenho lido livro de escritores que têm menos brilho do que aquele que dás à escrita! Vai em frente deixa teu pensamento fluir.... em breve temos escritora :))))))
ResponderEliminarUm repouso para a minha alma em turbilhão, ler-te.
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