segunda-feira, 31 de janeiro de 2011



Pequena entrada em grande

Chegaste depois de bater a muitas portas. Os nós dos dedos eram já nós da madeira das portas, de tanto encontro. E doíam, gastando-se. Dia após dia, ano após ano, reinvestias empurrando a vontade de ser. Questionavas ser tua, a vontade. Afinal, a tua vontade era a deles. Afinal, eram eles que te pegavam nas mãos e batiam nas portas, todos os dias.

Mas só foi quando quiseste, só tu podias querer. A eles bastava-lhes crer. Só tu podias fazer com que, do lado de lá das portas, se fizesse ouvir a vontade. Só tu podias ser.

A passagem pela porta acabou por não ser uma mera entrada. Foi uma grande saída. Foi um passo definido e não em falso, como todas as outras batidas nas portas. Ainda assim entraste, de rompante, contra os dias deles, e as noites, e todas as horas que lhes restavam. Invadiste-lhes os instantes vagos e preenchidos. A estes, desocupando-os com realeza e mestria, na volta de um choro ou de um sorriso.

Agora atravessada a porta, enches tudo até às abóbadas mais altas. As paredes e cantos do coração. E iluminas, dia e noite, o casebre daqueles que te pegaram nas mãos no dia em que bateste à porta e finalmente entraste.

6 comentários:

  1. Gu, tu és um sortudo. Tens uma mãe que escreve tão bem e que deixa que o enorme amor que sente por ti seja o recurso de estilo que domina o seu texto. (Sim, Sandra, até aos comentários agora são para o Gu)

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  2. lindo!é tão bom quando nos batem à porta. do coração:)

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  3. Já tinha saudades de te ler por aqui. "Pequena entrada em grande" tão bem descrita aqui... com o compasso certo.

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  4. Belo é o caminho que leva ao coração. Obrigatórias as entradas onde vamos por amor.
    Belo.

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