quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Contrato Social (Parte III de III)

Parte III - Daltonismo (Epílogo)



Verde, amarelo, azul… violeta, castanho, milhões de cores, biliões de interpretações, uma versão para cada uma delas, por cada um de nós. Por isso decidimos, quando ainda dávamos os primeiros passos enquanto espécie que haveria algo fundamental a firmar, se queríamos prosperar e conquistar o mundo. Um contrato. Haveria que estabelecer limites, regras básicas que todos entendêssemos e pudéssemos facilmente cumprir. Fronteiras a respeitar e capacidade para aceitar invasões dessas mesmas fronteiras. Aprender a mentir, a aceitar a mentira, contornar a verdade e selecionar as palavras certas, a viver e construir sobre essas mentiras que se acumulam com a maior naturalidade deste mundo, sobreviver e controlar. Controlar os desejos, os pensamentos, as vontades. Minimizar os conflitos e conciliar o inconciliável quando havia um inimigo comum pela frente, ou filhos para criar, cooperar mesmo com aqueles que sabemos que nos querem derrotar ou nos podem afundar, respeitar os limites mesmo sabendo que vamos enlouquecer, abraçar o grande desígnio da rede social.

Então, aprendemos a contar pequenas mentiras como “juro que não fui eu mamã”, “só tenho olhos para ti meu amor”, “é um prazer ouvir-te, podia fazê-lo durante horas”, “por favor, quero fazer parte da equipa”, “é um privilégio tê-lo cá connosco chefe”, “claro que é teu filho”, “sim querido, fazes-me vir sempre” e ”já estava morta quando eu cheguei”…

Aprendemos a preencher os espaços em branco e a dominar o negro, onde realmente existimos, fora dos olhares e do contrato social que assinámos com a multidão que nos rodeia…



Aliás, o que seria de nós se um dia esse contrato expirasse?


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2 comentários:

  1. Qual a cor que fica entre o preto e o branco, sem ser numa escala cinza?
    Com quantas histórias se pinta a realidade?
    Quantas letras cabem na palavra verdade?
    Gosto das (tuas)palavras que bailam e se divertem a fazer-nos pensar.

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