quinta-feira, 11 de agosto de 2011

pés presos aos pés da mesa (parcas palavras 2)

Ouviu uma frase que enche o estômago até ao vómito, duzentas palavras, lâminas disfarçadas, que rasgam a pele e bloqueiam a carótida.

Há dores agudas que sobrepõem as outras, as graves, pena termos que as prolongar até à exaustão. Arrancou os cabelos com uma pinça de alma, um a um, à janela, para os ver cair, para os deixar pousar, para que cada longo cabelo salgado-morto, ainda com o teu nome, volte a crescer insosso, incógnito, ignoto.

“Hoje durmo no chão, entre o frigorífico e o fogão (sem coragem para acender o gás). Quero voltar a andar direita, porque o colchão da cama curvou-me as costas com o teu cheiro.”

Apenas porque disseste (B de besta):

“Não quero contaminar mais os teus lençóis.”

in “talões multibanco e supermercado, 2006”

3 comentários:

  1. Um grito de revolta ajuda a aliviar a alma erguer a cabeça e seguir com mais determinação, só assim esse grito será bem vindo.

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  2. um grito sussurrado...uma dor escondida, uma escrita que me nos deixa de queixo caído.
    Muda de cama :)

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  3. Muito bom, curto e contundente como um bom golpe.

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