Querido Amor,
Estamos os dois a precisar deste tempo, de dar espaço e movimento ao doce tormento que nos prende em plácida ditadura pintada de harmoniosa candura
E não foras tu o reverso do meu ser, a condicionante maior da energia que me faz mover por entre os sonhos e desejos do quotidiano, dar-te-ia a ti, querido Amor, toda uma dimensão nova de querer, de te querer dar e tanto receber
De outros véus por onde não me vês, entre sombras de luz em que te escondes, perversa inocência perdida entre desejos profundos e enlaces ternos, mornos e consentidos
Entre pensamentos que vogam em ondas de suspiro e espuma de romance, dentro de ti para sempre na quietude do instante que mergulha na angústia da delícia que haveria de vir e nunca chega, mesmo quando matinal se desenrola em teu espírito delicado
O clamor da violência não é para ti, querido Amor, a dormência dos sentidos, os corpos nus e desconhecidos, a agudez desta dor que nos faz gemer, o rasgar da pele que desvenda novos terminais nervosos, o profanar de teu corpo de suaves contornos, o viver em delito e deleite, não são coisas do Amor, oh não, são minhas e delas serei dono e senhor
Por isso, meu querido Amor, de ti fugi entre horas vagas e dias a coberto, entre o fulgir das areias deste desejo deserto e no rugir das ondas que se abatem sobre as rochas da nossa paixão
Sempre teu, ausente por momentos mas contigo emersa em negro coração,
Até breve e que breve seja a viagem entre dias que nos apartam,
Luxúria
Já falei várias vezes da tangibilidade das imagens duras que crias e da agradável aspereza das palavras que escolhes. Mas para além disso, neste texto conseguiste fazer uma separação impossível e ao fazê-lo reforçar essa impossibilidade... curiosamente, não porque o amor não consegue viver sem a luxúria mas porque esta luxúria usa palavras de amor. Muito, muito bom.
ResponderEliminarJá agora (e pode parecer uma crítica do tipo feminista, mas não é) é interessante que no teu texto A luxúria seja um ser masculino e O amor seja um ser feminino.
Amei, cada palavra, cada sentimento, cada viagem! Escrever sobre a luxuria, sem luxuria mas sim com amor, é algo indescritível e delicioso de ler!
ResponderEliminarExcelente Postal de amor que a Luxuria escreve...e o espanto e a beleza é maior, uma vez que geralmente, andam apartados ...
ResponderEliminarA-d-o-r-e-i.
Anamar (pseudónimo)
Já o profeta Morrissey escreveu numa das suas epístolas aos fariseus como nós: "Love is natural and real, but not for such as you and I, my love..." ("I know it's over"). A rasgar a carne. Loved it.
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