sábado, 20 de março de 2010
Dormência
(Anathema - Sentient)
Não posso negar.
Cada vez que oiço a água a correr por entre as pedras, penso em ti
Sempre que os olhos me doem de ver tanta luz, penso em ti
Quando sinto o inverno a chegar à minha janela, penso em ti
E se procurar o pedaço que falta na minha alma, procuro-te a ti…
Por mais que eu tente, por entre nuvens de horas e pó dos anos
Por muito que tente recordar o peso que as palavras tinham em minha boca
Por tanto que passei só para poder esperar eternamente, paciente
Por tudo o que faria só pelo prazer de beijar a tua boca
Por tudo o que há em ti, que eu sinto que falta em mim
Eu caminhei mil vezes em torno de mim mesmo
Procurava a resposta para as questões que nunca te coloquei
Percebi então que perante o universo finito só teria uma solução
Fugir de ti
Negar-te a ti
Perder-me a mim
Dormir… por fim
E enquanto sentia o frio do destino final
Deixei-me ficar aqui, a ver as nuvens de horas a passar, o pó dos anos a assentar
A tristeza, o pesar, a dor, nunca me deixou voar para longe
Longe de mim
Para perto de ti
E assim ficarei,
Para sempre a contemplar o reflexo vazio que refulge por entre as teias do espelho
Para sempre a murmurar a cantilena que me embala neste pranto baixinho
Uma sombra de mim próprio esconde-se na noite selvagem
E à medida que os sentimentos crescem no meu âmago
Saberei de ti
Sentirei por ti
Negar-me-ei de ti
E saberei
Que morrerei aqui
Completamente só
Sem sombra de ti
Para sempre nesta dormência que nos embala
Tu, guardada na minha memória
E eu partirei por fim
Sem que no mundo haja memória de mim
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Usando palavras tuas, este texto "embala", deperta "sentimentos", permite "voar" e fica na "memória". Não preciso dizer mais nada :)
ResponderEliminarhum...pois eu sinto que no mundo vai ficar memória de ti...adorei e voei :)
ResponderEliminarnão há fantasma que assombre mais do que aquele que amámos. Um poema cheio de tristeza, belo e intenso. Ainda se ama assim?...
ResponderEliminarMagnúifico poema Nuno.
ResponderEliminarSiempre he sabido que el rostro es el reflejo del alma y tu rostro es pura limpieza y poesía. Podría decirse que posees elegancia en tu alma.
Puedes escribir en portugués pues, además de que lo entiendo todo, aprendo.
Un abrazo.