quarta-feira, 3 de março de 2010
Encarnes
Está a ver essa cicatriz que tenho nas costas? Levante a blusa e veja. Foi uma facada que o meu sogro me deu. É aquele que está sentado ali ao canto do quarto, está a ver? É ele, o pai do meu marido.
Espere, afinal a faca ainda está espetada... Podia tirá-la e fazer-me um penso? Um igual a esse que faz no meu pé. Acho que o meu pé vai cair qualquer dia, não acha?
Você não se cansa de andar sempre vestida de branco? É que o branco atrai muitas nódoas. Acho que deixei roupa branca dentro da máquina de lavar. Telefone para o meu filho, ele é capaz de estar em casa. A roupa não deve ficar muito tempo dentro de água, apodrece… não acha que ela apodrece? Eu acho que sim.
Olhe, e já agora pergunte ao meu sogro se ele quer que lhe faça também um penso. Ele é boa pessoa.
Já são horas de jantar? Não? Então quando forem horas venha chamar-me, não quero sair do quarto agora. A televisão que está na sala de refeições faz-me mal. Podia ir desligá-la? Ela é muito perigosa, nunca olho para ela. Foi ela que me fez isto ao pé.
Quando o meu pé estiver melhor vou sair daqui. Vou fugir! Posso deixar a faca aqui quando me for embora? É só para o meu sogro não conseguir espetá-la outra vez em mim.
Obrigada.
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Conseguiste deixar-me de lágrimas nos olhos. E isso já não acontecia há uns tempos (a conjugação com a música também ajudou, admito). Super tocante, muito bem escrito e com enorme sensibilidade. Adorei, Inês.
ResponderEliminarAinda estou a pensar na barbaridade que disseste ontem sobre o teu jeito para a escrita... :)
Gostei! :)
ResponderEliminarterrorismo psicológico (e físico)
ResponderEliminarquantas destas vítimas te aparecem na sala de tratamentos?....
bem vinda Inês, uma entrada em grande :)