domingo, 28 de março de 2010

Vida não eussocial



Era uma vez, um contador de histórias cujo historial era composto por histórias historicamente historiada por um historiador.

O historiador, de nome Conto, vivia na terceira casa a contar do Largo das Contagens e conta a lenda que o largo foi contabilizado em mil contos de réis porque ao contarem as contas do colar da mulher do contador de histórias, foram contadas mil. O contador de histórias foi quem inaugurou o largo e este viria a ser o ponto de encontro de toda a população. Um largo largamente amplo, com margens largas, árvores de tronco larguinho, não muito porque ainda eram novas e digo isto com uma larga margem de certeza, porque as vejo todos os dias quando vou para lá alargar os meus horizontes através da leitura alargada.

O Conto não sabia escrever, por isso usava a memória como folha e o pensamento como caneta. Depois as histórias eram passadas ao contador de histórias e este publicava-as em livros. O último livro chamava-se “o laço” e o seu lançamento, tal como de todos os outros era sempre realizado no largo. Nesse dia, era ver as pessoas a jogarem-se de forma jogada, com unhas e dentes a fazerem jogos e a serem jogadoras, umas contra as outras para conseguirem ganhar o jogo do lançamento d` “o laço” lançado.

Quem sofria um sofredor sofrimento, era a mulher do contador de histórias que tinha uma paixão apaixonadamente apaixonada pelo historiador e pelas suas histórias. Era uma injustiça que o seu marido, vazio de pensamentos, de sentimentos e de palavras fosse visto como o autor de tão belas histórias. Por outro lado, nunca tinha visto o historiador, mas tinha a certeza que tal existência existencial tinha de existir. Nunca ninguém o tinha visto fora da sua suposta casa, a terceira a contar do largo. Ninguém, à excepção do contador de histórias.

A casa tinha uma única divisão, uma única porta, uma única janela e um único ser lá dentro, o Conto. A troca processava-se da seguinte forma, o historiador entregava as suas histórias em código morse através de silenciosos toques no vidro da janela, como forma de pagamento, o contador de histórias entregava, sem nunca entrar em casa, pequenos torrões de açúcar ao historiador.

Sempre assim foi e sempre assim seria se a paixão da mulher do contador de histórias pelo historiador não fosse alterar esta rotina para sempre.
Certa noite, percorreu de forma percorrida o percurso que se tinha de percorrer desde a sua casa até à casa do Conto, forçou forçosamente e com toda a sua força a abertura da porta e não viu nada. Um grande vazio. Com um grande desgosto de amor, voltou para casa. Afinal, quem escreve as histórias? Ao mesmo tempo que fazia esta pergunta, apareceu um sorriso a sorrir muito sorridente na sua cara. O seu marido… afinal era ele próprio que escrevia e que bem!
Ao mesmo tempo que fazia esta pergunta, o seu marido não podia sequer sonhar que neste momento jazia esmagada no chão, o Conto, formiga solitária e solidária.

Naquela noite por culpa de uma curiosidade curiosamente curiosa morreu um historiador, uma história, um amor…

Naquela noite por culpa de um segredo secretamente segredado ao vidro de uma janela morreu um contador de histórias, um largo, um laço…

São as pequenas coisas que nos conseguem agitar mais fortemente, aquelas que por estarmos centrados em nós próprios são esmagadas inconscientemente e com isso provocamos danos irreparáveis.

2 comentários:

  1. Mestra musical...tu estas a ficar uma Mestra de mão cheia na escrita!!!:)) gostei de mais!!

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  2. Que linda fabula!!!! Adoro a repeticao das palavras, torna o texto ao mesmo tempo divertido e poderoso.

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