sexta-feira, 5 de março de 2010
Um parêntese
"O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma oportunidade de meditação permanente ao nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba receber." (Artur da Távola)
(Todas as noites deixava a porta do meu quarto entreaberta. Quase com uma certeza matemática, sabia que ias entrar.
Não havia hora marcada, mas estava sempre acordada quando entravas e apesar de não conseguir ouvir os passos das tuas patas, conhecia exactamente o momento em que atravessavas a fronteira entre o corredor e o meu quarto. Conseguia, igualmente, anteceder o instante em que davas o salto e pousavas com a delicadeza própria do teu ser em cima da minha colcha. Como sempre, eu sabia que os teus passos picotados te iam levar até às minhas costas. Depois de deitado confortavelmente, o teu típico ronronar entranhava-se até aos meus pulmões e eu tinha de suster a respiração. Acertava os meus ciclos respiratórios com os teus e durante horas tínhamos a mesma frequência.
Assim era, até que houve uma noite em que não cruzaste a fronteira. Não pensei em perguntar-te porquê. Já tínhamos conversado sobre isso e sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, nunca mais ias passar por aquela porta, ou então, era eu que nunca mais ia dormir naquela cama.
Assim era, assim foi. Nem todos compreendem isto.)
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A minha gata dorme assim, na curva das minhas costas. A história da respiração é tão engraçada... e tão verdade!
ResponderEliminarGosto muito da tua escrita, simples, bela,. honesta. Estou a ficar tua fã. O pessoal de Aljustrel dá-lhe nas letras! :)
não respirei enquanto te lia... faz meditar!! adorei!!
ResponderEliminarFacilmente visualizei toda a cena. Gostei muito.
ResponderEliminarestamos todos interligados Por vezes, cumprimentamo-nos efusivamente enquanto de passagem por este mundo... até à próxima
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