sábado, 6 de março de 2010

A Maldição



Não vou chorar. Exorcizo todas as gotas cadentes que abrem caminho na minha cara e morrem num lugar que ninguém conhece. Sou fraca se chorar.
Digo: inspira-as, absorve-as, consome-as, devora-as, recolhe-as, e se for preciso bebe-as antes de saírem. Em frente ao espelho, devolvo o olhar aos meus olhos para ter a certeza que nada vai brotar.
Penso: para onde vão as lágrimas que se escondem? Ora, vão para o lugar de onde nunca deviam ter saído! Pergunta estúpida! Tal como eu serei se chorar.
Sinto: dor. Maldito, que se sente por eu estar a reter estas gotas importunas. Sou capaz de te arrancar à machadada só por estares a viciar o peso da minha consciência. Ela não vai ceder a ti! Vou amaldiçoar-te! Sim, és maldito, mil vezes maldito! Que o sal das minhas lágrimas não nascidas cristalize nas tuas coronárias, que o oxigénio se extinga, que fiques necrosado. Não me importo. Não vou chorar.

3 comentários:

  1. Bolas, vou guardar esta, para o caso de um dia precisar dela. :D
    Parabéns, adorei. Fez-me lembrar a cena da Glen Close no final das "Ligações Perigosas". Muito bom.

    ResponderEliminar
  2. muito muito bom!e nem que me empurrem do alto do arranha céus depois de te ler, sei voar não vou chorar!!:D

    ResponderEliminar
  3. Senti como se se tivesse passado comigo.

    ResponderEliminar

Impossibilidades

É onde a cabeça de uma sweet little sixteen cai, frequentemente. Rola, desespero abaixo e, pum, estilhaça-se no vazio. Foge, acelerada, do...