terça-feira, 9 de março de 2010

Mentira absurda



Ela poderia tê-lo morto e teriam estado casados mais de uma semana.

Laura tinha sido encontrada sozinha perdida numa praia...o marido morto no quarto do hotel...foi condenada a morte.

Sou padre na prisão onde esteve presa nunca tinha conhecido ninguem assim...era esvaziada de orgulho e manchada de vergonha.Estava a morrer, a morrer na terrivel convicção que Deus não existia.Parva tinha desperdiçado o seu amor,e o ódio a seguir ao amor numa mentira absurda.

Assisti ao seu julgamento e defesa final.


-Ah, ele tinha sido um belo homem!Era forte e um profundo conhecedor em matéria amorosa.não admirava que eu o tivesse amado desesperadamente.não o matei!

-Gostavamos de martinis secos.

-Deve estar na hora de ires-disse-lhe-tenho martinis feitos.Queres um antes de partir?

-Obrigado-disse ele-vou chamar um táxi enquanto o vais buscar.

-Fui até a cozinha.

-Servi os martinis, deixei cair as azeitonas nos copos,peguei numa caixinha.

Por momentos segurei-a com ambas as mãos sob os seios,naquilo que era quase um gesto de amor,a seguir atirei-a fora com um gesto de violência a tampa voou e o pó espalho-se como uma espuma de neve.

Voltei a sala.

-Estão bem secos -disse-lhe.

-Erguemos os copos

-Brinda-mos aos velhos tempos-disse ele.

-Sim aos velhos tempos.

A buzina do táxi soou acompanhei-o até a porta o táxi aguardava.

-Estou livre pensei.Agora estou livre.

No vazio aterrador da minha liberdade,sem mais nada por viver e nada que valesse a pena morrer, desci até a praia.

Dia 18 de Julho de 1959, 10 horas e 40 minutos,dia e hora que Laura deixou de pertencer a este Mundo.


Sai daquele tribunal com a certeza de que nunca mais seria o mesmo.

Entrei na primeira porta que encontrei aberta...

Sentado á mesa de um bar, os dedos da sua mão esquerda não paravam de fechar-se com força presas de uma sensação de falta de jeito sem o cilindro de tabaco enrolado em papel.O mundo conspirava contra um homem que tentasse deixar de fumar, só via gente a puxar por cigarros.Deu um gole no copo que tinha a frente.
Agora ao olhar para aquela sala e para o seu copo, pensou nada vale a pena fui padre durante 12 anos, abandonei, e agora?!recomeçar do nada...?Tum ,tum ,nada, tum ,tum ,tum, nada,à sexta batida,ficou ali sentado a carregar com a mão no peito... o seu coração andava acelarado - estou a ficar velho pensou, lambeu os lábios ,sentindo mais que nunca a falta do cigarro.
Porque não havia ele de ter-se tornado um magnifico falhado ou um fanático padre ou mesmo um esplêndido trapaceiro?

Olhou para o relógio e pensou o que se passou o que fez aquela mulher comigo? O desvairado e mudo grito que lhe ia no espírito era frio e árido clima de um deserto privado em si,conhecedor da bíblia pensou... e dai Moisés levou 40 anos a sair do deserto...vestiu o casaco e saiu do bar só sem saber para onde ir mas sem aquela sensação de carregar o mundo nas costas, mas com a sensação de que somos tudo o que temos cá dentro.
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3 comentários:

  1. Inspiradíssima Natália! Gostei muito de conhecer esta tua outra faceta de escrita. O teu padre tem potencial para personagem de policial, sabias? :) Gostei da confissão dela e do "frio e árido clima de um deserto privado em si". Parabéns!

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  2. Um brinde mortal... duplamente mortal...
    "Tum, tum, tum", tudo, "tum, tum", Tudo!! Muito bom Natália :)

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  3. a preto e branco, intenso e arrepiante
    bravo Inspectora, queremos mais destes

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